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6.10.04

Bom dia, noite



Em 'Bom dia, noite' (título inspirado num poema de Emily Dickinson), Marco Bellochio dá-nos o seu retrato dos 55 dias de cativeiro do líder da Democracia Cristã italiana Aldo Moro, após ser raptado pelas Brigadas Vermelhas em 1978. Vemos tudo através dos olhos de Chiara, uma brigadista que faz parte de um grupo de 5 elementos que mantêm Moro sequestrado num apartamento, fazendo-se passar por uma família normal. Um dos pontos fortes do filme é precisamente o facto de se passar quase totalmente neste apartamento, a que o tom ‘granuloso’ e sujo da fotografia ajuda a dar um ar intimista, quase claustrofóbico. É-nos mostrado o isolamento (real e simbólico) dos brigadistas em relação ao mundo, vendo ansiosamente os noticiários, assustando-se quando alguém toca à campainha, tentando doutrinar Moro. Mas há algum esquematismo nestes cinco elementos, que nos são apresentados como um bando de ingénuos, que detestam que lhes chamem assassinos e ficam surpreendidos por não haver um levantamento popular a seu favor. Mesmo a personagem de Chiara, a mais complexa quer a nível ideológico quer emocional, padece de um problema: como não a conhecemos antes das dúvidas, quando ainda acreditava, também não somos totalmente marcados pela sua perda progressiva de fé na causa, pelo seu arrependimento que a leva a imaginar um fim diferente para a história. Por oposição, é-nos dado um retrato magnífico de Moro (excelentemente interpretado de Roberto Herlitzka), sempre sereno e digno e que é o primeiro a perceber que vai ser sacrificado pelos seus companheiros políticos de toda a vida.

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