...Hugo Alves, 25 anos, jurista por formação, advogado de profissão, a fazer um Mestrado em Direito. Leitor compulsivo e cinéfilo inveterado, é o autor do muito cinéfilo - e combativo - blogue Amarcord.
Otto e Mezzo, de Federico Fellini
É o filme máximo, homenagem ao Cinema, viagem ao Universo de Fellini (restando saber se é um retrato honesto ou artificial), mas, principalmente, é o abraçar sôfrego da vida tal como ela é: desde o mais abjecto ao mais belo, onde tudo está envolto num tom onírico e onde a banda sonora de Nino Rota é o complemento perfeito das imagens do outro mágico: Fellini.
Le Samouraï, de Jean-Pierre Melville
Mais do que um filme de gangsters, Melville usa de toda a sua arte para nos dar um retrato abstracto e depurado da imensidão do espaço urbano e da solidão na selva de betão. Jeff Costello, o Samouraï, é, de certo modo, uma espécie de retrato do isolamento de todos nós na selva urbana.
La maman et la putain, de Jean Eustache
O filme em que Eustache traça o retrato das gerações pós-Maio de 1968 e, simultaneamente, exploras as fronteiras e limites das relações amorosas. isto enquanto perscruta a miríade de variações que uma simples palavra pode ter. Desde o palavrão ao mais requintado e erudito adjectivo.
Rocco e i suoi fratelli, de Luchino Visconti
Visconti regressa, formalmente, ao terreno de formação, mas fá-lo num tom de tragédia operática onde os 4 irmãos de Rocco se vão passeando por Milão, algures entre a crença no futuro próspero da vida na grande urbe e o sentimento telúrico, o chamamento da terra e o desenraizamento que domina alguns deles. Para além do mais, dificilmente se esquece o abraço à morte de Nadia ou o passeio desencantado de Luca, ao som de Bello paese mio¸ enquanto acaricia os cartazes onde está estampado o rosto do seu irmão Rocco.
Pierrot le fou, de Jean Luc Godard
Aqui temos a síntese de todo o Godard, desde o ll faut vivre dangereusement de À bout de souffle, passando pela declaração de amor a Karinna de Le mépris. Mas há, também, o constante jogo de citações, a homenagem ao cinema e, também, uma das mais trágicas histórias de amor, pautada pela inesquecível banda sonora de Antoine Duhamel. Em Pierrot le fou, o simples acto de existir dói. E isso é de uma beleza trágica, mas sublime.
Bitter Victory, de Nicholas Ray
É o filme onde a emoção, desde o primeiro ao último frame, impera, colocando, através do “duelo” entre Leith e Brand, a cobardia em exame. Mais do que um filme de guerra, Bitter Victory, é um pequeno tratado sobre alguns dos traço negativos da humanidade. Ademais, tem um dos momentos mais sublimes de Cinema que conheço: aquele em que Leith é engolido por uma tempestade no deserto bradando I always contradict myself.
Sansho Dayu, de Kenji Mizoguchi
Aqui Mizoguchi oferece-nos uma fábula sobre a redenção e um tratado sobre a compaixão. Pelo próximo, pelos semelhantes. Por todos. É um filme permeado de elipses, sendo a mais bela e pertubora aquela em que nos apercebemos do suicídio da irmã de Zushio que, chorando, desloca-se lentamente para um lago. Coloca umas pedras nos bolsos e, quando a câmara regressa, só vemos o leve balançar das águas. Este é o filme onde todos os homens são espectros que só ganham corpo quando Zushio, já redimido, os liberta. Pura poesia e humanismo, em estado puros.
Baisers Volés, de François Truffaut
Resulta difícil escolher um filme do ciclo Doinel (este é o primeiro que vi…). Em Baisers volés, tal como na música de Trenet, somos dominados pelo tom agridoce e levemente surreal em que os amores de Antoine e Christine se deixam enlear, contagiando-nos, fazendo-nos sonhar e, claro, perguntar Que reste-t-il de nos amours?
Lawrence of Arabia, de David Lean
Ver o contraste entre a imensidão do deserto, o extenso areal que tudo rodeia e engole, e o rosto transido de El Aurens, fitando o horizonte distante nos deixam boquiabertos e sem palavras, tal como a sua obstinação e o constante quebrar de regras. É um filme sobre um sonho e sobre a sua realização (tal como, em certa, medida Fitzcarraldo, de Werner Herzog, um dos meus outros filmes preferidos).
Zorba the Greek, de Michael Cacoyannis
Um belo retrato da amizade e do amor, que me fez redescobrir a aplicação pura do super-homem de Nietzsche, mas, também, me deu a conhecer o universo de um escritor extraordinário: Nikos Kazantzakis. Acresce ainda que a dança final é absolutamente inesquecível, tal como o é a interpretação de Anthony Quinn e as várias peripécias que Zorba desencadeia por Creta.
Concluo lembrando que esta é uma lista afectiva. Idolatro autores como Ozu, Bergman, Antonioni ou Bresson. Mas esta é a lista, passe a expressão, do coração e não da razão.
Otto e Mezzo, de Federico Fellini
É o filme máximo, homenagem ao Cinema, viagem ao Universo de Fellini (restando saber se é um retrato honesto ou artificial), mas, principalmente, é o abraçar sôfrego da vida tal como ela é: desde o mais abjecto ao mais belo, onde tudo está envolto num tom onírico e onde a banda sonora de Nino Rota é o complemento perfeito das imagens do outro mágico: Fellini.
Le Samouraï, de Jean-Pierre Melville
Mais do que um filme de gangsters, Melville usa de toda a sua arte para nos dar um retrato abstracto e depurado da imensidão do espaço urbano e da solidão na selva de betão. Jeff Costello, o Samouraï, é, de certo modo, uma espécie de retrato do isolamento de todos nós na selva urbana.
La maman et la putain, de Jean Eustache
O filme em que Eustache traça o retrato das gerações pós-Maio de 1968 e, simultaneamente, exploras as fronteiras e limites das relações amorosas. isto enquanto perscruta a miríade de variações que uma simples palavra pode ter. Desde o palavrão ao mais requintado e erudito adjectivo.
Rocco e i suoi fratelli, de Luchino Visconti
Visconti regressa, formalmente, ao terreno de formação, mas fá-lo num tom de tragédia operática onde os 4 irmãos de Rocco se vão passeando por Milão, algures entre a crença no futuro próspero da vida na grande urbe e o sentimento telúrico, o chamamento da terra e o desenraizamento que domina alguns deles. Para além do mais, dificilmente se esquece o abraço à morte de Nadia ou o passeio desencantado de Luca, ao som de Bello paese mio¸ enquanto acaricia os cartazes onde está estampado o rosto do seu irmão Rocco.
Pierrot le fou, de Jean Luc Godard
Aqui temos a síntese de todo o Godard, desde o ll faut vivre dangereusement de À bout de souffle, passando pela declaração de amor a Karinna de Le mépris. Mas há, também, o constante jogo de citações, a homenagem ao cinema e, também, uma das mais trágicas histórias de amor, pautada pela inesquecível banda sonora de Antoine Duhamel. Em Pierrot le fou, o simples acto de existir dói. E isso é de uma beleza trágica, mas sublime.
Bitter Victory, de Nicholas Ray
É o filme onde a emoção, desde o primeiro ao último frame, impera, colocando, através do “duelo” entre Leith e Brand, a cobardia em exame. Mais do que um filme de guerra, Bitter Victory, é um pequeno tratado sobre alguns dos traço negativos da humanidade. Ademais, tem um dos momentos mais sublimes de Cinema que conheço: aquele em que Leith é engolido por uma tempestade no deserto bradando I always contradict myself.
Sansho Dayu, de Kenji Mizoguchi
Aqui Mizoguchi oferece-nos uma fábula sobre a redenção e um tratado sobre a compaixão. Pelo próximo, pelos semelhantes. Por todos. É um filme permeado de elipses, sendo a mais bela e pertubora aquela em que nos apercebemos do suicídio da irmã de Zushio que, chorando, desloca-se lentamente para um lago. Coloca umas pedras nos bolsos e, quando a câmara regressa, só vemos o leve balançar das águas. Este é o filme onde todos os homens são espectros que só ganham corpo quando Zushio, já redimido, os liberta. Pura poesia e humanismo, em estado puros.
Baisers Volés, de François Truffaut
Resulta difícil escolher um filme do ciclo Doinel (este é o primeiro que vi…). Em Baisers volés, tal como na música de Trenet, somos dominados pelo tom agridoce e levemente surreal em que os amores de Antoine e Christine se deixam enlear, contagiando-nos, fazendo-nos sonhar e, claro, perguntar Que reste-t-il de nos amours?
Lawrence of Arabia, de David Lean
Ver o contraste entre a imensidão do deserto, o extenso areal que tudo rodeia e engole, e o rosto transido de El Aurens, fitando o horizonte distante nos deixam boquiabertos e sem palavras, tal como a sua obstinação e o constante quebrar de regras. É um filme sobre um sonho e sobre a sua realização (tal como, em certa, medida Fitzcarraldo, de Werner Herzog, um dos meus outros filmes preferidos).
Zorba the Greek, de Michael Cacoyannis
Um belo retrato da amizade e do amor, que me fez redescobrir a aplicação pura do super-homem de Nietzsche, mas, também, me deu a conhecer o universo de um escritor extraordinário: Nikos Kazantzakis. Acresce ainda que a dança final é absolutamente inesquecível, tal como o é a interpretação de Anthony Quinn e as várias peripécias que Zorba desencadeia por Creta.
Concluo lembrando que esta é uma lista afectiva. Idolatro autores como Ozu, Bergman, Antonioni ou Bresson. Mas esta é a lista, passe a expressão, do coração e não da razão.
Todas as semanas um blogger cinéfilo falará aqui de 10 filmes da sua vida. O próximo convidado é Paulo Ferrero.
6 comments:
Obrigado pelo convite tão gentil! :-)
Partilho algumas destas escolhas :)
Belo testemunho da tua paixão, Hugo.
Gosto muito de oito; nunca vi o "Zorba" e o "Lawrence" é-me indiferente (épicos não costumam ser comigo...). O teu apontamento final, da lista afectiva, fez-me lembrar o que escreveu um crítico do Público quando lhe pediram os vinte melhores filmes dos primeiros vinte anos de democracia: "Estes são os filmes que mais gosto. A sua importância futura não é para aqui chamada.".
Deve ter sido dificil ao Hugo fazer isto, tamanha a quantidade e qualidade de filmes que ele devora ;)
Pela minha parte, e admitindo que não vi todos, partilho fortemente a paixão (amarga) pelo La Maman et la Putain.
Helena, desde o princípio deste mÊs que tenho muito menos tempo... :(
Era para comentar antes, mas distraí-me...
Apenas para dizer, bela lista! ;)
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