Recent Posts

20.11.07

Beowulf



Quando me desafiaram a ir ver este filme pensei: ver a Angelina Jolie em 3D? Why not? As surpresas começaram na bilheteira: estava eu a dar os 4,20€ à menina, quando me são exigidos 6 euros... "é o preço para filmes 3D". Bom, toca então a desembolsar mais 1,80€ à custa dos óculos, que já não são de cartão, mas uma coisa a sério, não propriamente uns Ray-Ban, mas pelo menos semelhantes aqueles das lojas chinesas.

A tecnologia 3D já é bastante antiguinha, o próprio Hitch chegou a usá-la num filme (o excelente 'Dial M for Murder', que acabaria no entanto por passar em versão 'normal' em quase toda a parte), mas a verdade é que nunca pegou e já não me lembrava de ter visto um filme de óculos postos. Não há duvida que de início somos agradavelmente surpreendidos por termos a imagem bem em cima de nós, o que permite ao realizador brincar um bocado com coisas como pôr um objecto a vir mesmo na nossa direcção ou a sair mesmo defronte do nosso nariz (diga-se em abono de Zemeckis que ele não abusa muito destes truques). Acontece que este filme usa aquela técnica cada vez mais em voga de criar desenhos animados a partir de filmagens com actores (motion capture), ficando assim as personagens mais bonecos que seres de carne e osso, o que neste caso concreto nos remete para uma espécie de ambiente de videojogo. Nunca ninguém há de me conseguir explicar a vantagem, utilidade ou propósito desta técnica, mas adiante. Passado algum tempo já nos habituámos a toda esta tecnicagem, e a 'história', por assim dizer, fica entregue a si própria.

'Beowulf', como é sabido, é uma saga anglo-saxã que vem do século IX e que serviu de inspiração e modelo a muito do que veio depois, incluindo o mundo de Tolkien. Falamos de literatura claro, porque no caso do cinema passa-se o contrário e 'Beowulf', como tantos outros filmes 'fantásticos', é que é filho de 'Senhor dos Anéis'. Com 3D ou sem 3D, com mais ou menos animações computorizadas, não podemos deixar de o ver como mais um pálido sucessor das obras de Peter Jackson, que neste género atingiram um nível quase inultrapassável. Não que alguma ressonância do épico original não passe para a tela, nomeadamente um inusitado humor com forte carga sexual , mas é pouco quando temos um conjunto de personagens que nem em 3D têm qualquer tipo de profundidade, ou quando a carga mítica é fortemente diluida no aparato técnico.

No fundo é um filme para adolescentes: tem acção, fantástico, pouca profundidade, exige o mínimo do espectador e tem 'tecnologia' como eles gostam. E, enfim, um adulto pode não dar o seu tempo por mal empregue se encarar a coisa como um divertimento leve e uma oportunidade para voltar ao 3D - que embora não acrescente nada esteticamente ao filme, acaba por ser um ingrediente diferente numa refeição algo requentada.
Beowulf, E.U.A., 2007. Realização: Robert Zemeckis. Com: Ray Winstone, Anthony Hopkins, John Malkovich, Robin Wright Penn, Brendan Gleeson, Crispin Glover, Alison Lohman, Angelina Jolie.

0 comments: