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11.11.07

Zidane, Um Retrato do Século XXI



E se durante um jogo de futebol a câmara seguisse, não a bola, mas apenas um dos jogadores? Foi esta a ideia da dupla de artistas Gordon Douglas/Philippe Parreno, que puseram 17 câmaras a apontar para Zidane num Real Madrid-Villarreal de há dois anos. Temos então 90 minutos de Zinedine Zidane, em plano americano ou em grande plano, com um plano de pormenor dos pés de vez em quando, um grande plano às vezes. A banda sonora alterna entre o som 'ao vivo' do estádio, e musica dos Mogwai com legendas a acompanhar. Nestas vamos lendo afirmações do jogador, como se alheia quase totalmente de tudo o que o envolve durante os jogos ou como a sua memória destes é fragmentada (e daí fazer sentido a musica - reforça este alheamento, esta quase introspecção do jogador).

O resultado é estranhamente fascinante, de início. Ficamos como que hipnotizados por Zidane, pela sua face concentrada, impassível (não há um sorriso), alheada. E sem dúvida que experimentamos uma outra maneira de ver o jogo - como algo solitário, em que cada jogador intervém pouquíssimo ao longo dos 90 minutos, algo em que não estamos habituados a pensar.

Mas também é verdade que ao fim de meia hora está tudo visto. Já assimilámos a ideia, já 'experimentámos' a obra, a partir daí torna-se algo cansativo. Fosse o filme/instalação/performance/o-que-se-queira-chamar exibido numa sala de um museu de arte contemporânea, e uma pessoa quando chegasse a um certo ponto ia dar uma volta e poderia voltar se lhe apetecesse. Eu como o vi em casa, fiz mais ou menos isso: 'vi' aí metade em 'segundo plano', enquanto ia fazendo outras coisas. Se tivesse assistido numa sala de cinema, desconfio que a incomodidade acabaria por vencer e me teria estragado o prazer genuíno que a primeira meia hora me deu...
Zidane, un portrait du 21e siècle, França, 2006. Realização: Douglas Gordon, Philippe Parreno.

2 comments:

Daniel Pereira said...

Cada um vê o filme como quer, mas parece-me que a experiência desta obra só é total se vista do princípio ao fim. Isto porque o tempo do filme é o da sua duração.

Unknown said...

Talvez eu tenha feito uma interpretação demasiadamente literal do 'retrato' do titulo. Quando admiro um 'retrato', digamos num museu, também não me é imposto um tempo. Aqui encarei a coisa da mesma maneira. Demorei-me em frente do retrato o tempo que apeteceu. E mais tarde talvez até lá volte para admirar algo mais em pormenor.