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18.2.10

10 filmes da vida de...

...José Oliveira, autor do muito cinéfilo e combativo blogue O touro enraivecido.


















City Girl, F.W. Murnau, 1930

U samogo sinego morya, Boris Barnet, 1936

She Wore a Yellow Ribbon, John Ford, 1949

Forty Guns, Samuel Fuller, 1957

Les yeux sans visage, Georges Franju, 1960

Sanshô dayû, Kenji Mizoguchi, 1965

La Maman et la Putain, Jean Eustache, 1973

Route One USA, Robert Kramer, 1989

Vale Abraão, Manoel de Oliveira, 1993

Juventude em Marcha, Pedro Costa, 2006

Já muitos disseram o ridículo que é fazer uma lista dos melhores de sempre, sejam filmes, livros, qualquer coisa. E é verdade. Se me passou pela cabeça encetar qualquer coisa do género, só o tentei (o interessante é que é sempre uma tentativa) na medida em que sirva de uma espécie de história pessoal. Jamais teria a pretensão de dizer quais os melhores filmes jamais feitos, mesmo se com a caução do “gosto”. Se escolho o Murnau em vez de um Griffith ou de um Stroheim, de um Pabst ou de Borzage ou um Lang, é só porque o lirismo e a poesia dele me fez acreditar, quando o vi, que o cinema só poderia ser aquilo, e que aquilo era a arte que mais me interessava. O mesmíssimo para o inultrapassável e comovente Nicholas Ray. Ou o russo Barnet, que pode ser menos importante historicamente do que Eisenstein ou Vertov, mas que para mim atingiu alturas e levou o cinema para o campo do onírico e do sonho como se calhar jamais alguém ousou. De Ford nada preciso justificar, todo o essencial do cinema americano (ele e Hawks, Hitchcok, Preminger) mas também todos os grandes estetas e cineastas do plano nasceram com ele. Ozu, outro dos grandes preferidos, ou os Straub, são dessa bela família. Ou Kramer e Costa, o que o cinema foi e o que pode ser. A resistência e o olhar limpo. Depuração, ascetismo e hieratismo, mas convocando qualquer coisa da ordem do sagrado e do impronunciável é o que Oliveira nos dá a cada obra. O mesmo para Mizoguchi, o qual a definição de Domarchi: “uma inexorável doçura” diz tudo; e daqui poderia convocar toda a grande arte oriental, a arte dos grandes mistérios. Mistério, temeridade, assombramento e desconhecido é o que me mostrou Franju e o seu cinema das trevas; de onde poderia derivar para todos os grandes mestres do horror, do aventureiro e do fantástico, de Browning ou Tourneur até Burton. Depois, os intempestivos, os temperamentais, os iconoclastas e estertores. Fuller, que virou ao contrário o classissimo e fez do cinema o campo de todas as guerras e logo de todas as vidas. Daí para Welles, Rossen, Peckinpah ou Siegel é um passo da medida do “eu” de cada um. Eustache e o cinema como arquivo de vida é a escolha mais pessoal, a mais afectiva, pois se jamais a palavra foi utilizada de modo tão central, tão delicada e tão “escandalosa”, é daqui que me lembro de toda a nouvelle vague, de Renoir ou Dreyer, Vigo ou Bresson, Rohmer ou Monteiro. Cinema resolutamente ligado à vida, de uma moral de ferro: a realidade ardentemente respeitada e captada, sem golpes baixos. Depois também Garrel, Wahrol, Carax, Pialat e muitos mais. E claro que muitos filmes ditos série-b ou sem dinheiro e “profissionalismo”, feitos do dia para a noite, podem ser tão fundamentais e ter tanto fogo como qualquer um dos citados e dos imensos esquecidos – Joseph H.Lewis, Ulmer, Walsh, Boeticher, Arnold, Aldrich, Rousseau, Ginsberg, Benning e muitos mais. E pronto, desta vez foi o que saiu.

Todas as semanas um blogger cinéfilo fala aqui de 10 filmes da sua vida. O próximo convidado é o José Bértolo.

1 comments:

Unknown said...

Nunca vi o 'Route One USA', aliás nem conhecia....

Mas é engraçado o 'Les Yeux sans visage' aparecer pela segunda vez consecutiva aqui num top, depois de eu o ter posto em primeiro nos meus filmes de terror preferidos.