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12.1.11

Enter The Void


Deste filme disse Tarantino, com o habitual entusiasmo tarantiniano, "Hands down best credit scene of the year … Maybe best credit scene of the decade. One of the greatest in cinema history". Basicamente o dito genérico passa em fast forward, com uma música tecno-videogame, e não apanhamos nada... Mas depois tudo acalma. E de que maneira.

Supostamente vemos 'Enter The Void' inteiramente do ponto de vista de uma das personagens, Oscar, um adolescente que é dealer em Tóquio. O procedimento não é inteiramente original: 'A Dama do lago', um noir de Robert Montegomery, de 1947, é inteiramente filmado através dos olhos de uma personagem. A diferença aqui é que durante meio filme Oscar está completamente mocado e no restante está morto. Mas continua a vigiar o que se passa cá em baixo, nomeadamente com a sua amada irmã (Paz de la Huerta), que é dançarina num clube de strip também em Tóquio.

E o que vemos é uma Tóquio fluorescente, psicadélica, desfocada, ao som de uma banda sonora abafada, etérea, filmada com imagens lentas, intercaladas com devaneios visuais hipnotizantes, a um ritmo vagaroso, onde não se passa quase nada . Ou seja, o mais próximo possível de estarmos a ver tudo, também nós, ligeiramente mocados, numa trip sem efeitos secundários proporcionada pelo realizador Gaspar Noé. Que, uma vez mais, depois de 'Irreversível', nos dá um filme para dividir as águas, muito 'ame ou odeie'.

Eu achei-o excessivamente longo (poderia facilmente ter menos uma hora), com vaivéns escusados e cenas desnecessárias, ora fastidiosas ora irritantes,  mas não há que negar a Noé a ousadia, nem o risco, nem o talento. Kubrick disse que “A film is – or should be – more like music than fiction. It should be a progression of moods and feelings. The theme, what’s behind the emotion, the meaning, all that comes later.” Noé, neste filme, tentou seguir esta máxima. Se o conseguiu ou não decida o leitor.

Enter The Void, França, Alemanha, Itália, 2010. Realização:  Gaspar Noé. Com: Nathaniel Brown, Paz de la Huerta, Cyril Roy, Olly Alexander, Masato Tanno.

4 comments:

Álvaro Martins said...

Sinceramente já nem tenho vontade de ver isto depois do que já li (não só aqui). É que é quase unânime essa opinião (pelo menos do que li). Ah e o Tarantino é um palhaço, cada vez tenho mais desconsideração pelo homem (atenção que não estou a dizer que é mau realizador porque não é (bem pelo contrário), mas é um cinéfilo de merda na minha opinião. E acho que dá uns aninhos para cá dá-se demasiada importância ao que o homem diz).

Unknown said...

Eh pá, o Tarantino é formado naquele caldo de cultura popular xunga. Os filmes dele são muito melhores do que quase tudo o que ele gosta, mas se não o levares demasiadamente a sério é divertido ver as suas preferências, bastante idiossincráticas...

O Puto said...

Eu cá acho que ele gosta de baralhar a cabeça a quem lê as suas listas e as suas preferências em geral, misturando as suas influências com declarações propositadas. Há que levar na desportiva, como disse o caro Harry_Madox.

Notícias e Opinião said...

Eu gostei muito do Enter The Void. Não tanto pelo conteúdo mas pela forma. Contudo, compreendo e respeito a crítica de Harry Madox. Caso não me apelasse tanto aos sentidos, teria provavelmente escrito algo do género, mas a minha crítica a Enter The Void é um pouco diferente. Se quiserem podem lê-a aqui: http://noticiasopiniao-cvantacich.blogspot.com/2011/07/enter-void-critica-trailer-e-legendas.html

No que respeita ao Tarantino, considero-o muito bom mas não sou fã incondicional. Detestei o Death Proof e também não morri de amores pelos Kill Bill. É um realizador junkie tal como Gaspar Noé. De qualquer modo goste-se do género ou não,ninguém pode dizer que o Noé não filma muito bem. Se ainda não viram, vão a tempo. Para que o possam apreciar têm que se deixar envolver...deixem-se levar pelos sentidos.