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13.3.06

Coisa ruim



'Coisa ruim', que abriu a última edição do Fantasporto, é uma coisa rara: um filme fantástico português. Passado numa pequena povoação perdida no monte, para onde um professor resolve ir morar com a família depois de lá herdar um velho casarão, o filme remete-nos desde o inicio para o característico mundo do Portugal profundo, com as suas superstições, as suas lendas, o seu catolicismo medieval, habitado por pessoas fechadas e desconfiadas. Um mundo que remete para a nossa infância e acorda algo num canto da nossa memória há muito nublado. Mais do que pretender assustar o espectador com surpresas ou truques, os realizadores vão antes envolvendo-o neste clima de diz-se que, de indícios, de coisa entrevistas, de pressentimentos, de fantasmas. E se o espectador não se sente verdadeiramente assustado, sente-se no entanto envolvido numa estranha atmosfera sobrenatural, é levado para uma zona de fronteira do racional e do irracional que se torna inquietante. Tudo isto se deve, não tanto ao argumento, enésima variação do tema 'casa assombrada' embora com o necessário golpe de asa de o enquadrar esplendidamente neste ambiente muito português, mas acima de tudo à excelente realização de Tiago Guedes e Frederico Serra. Porque, diga-se, este é um filme muito bem filmado, com belos planos e enquadramentos, com transições imaginativas, com uma montagem irrepreensível, optando sempre pelo eliptico em vez do demonstrativo. Uma grande surpresa.
Coisa Ruim, Portugal, 2006. Realização: Tiago Guedes e Frederico Serra. Com: Adriano Luz, Manuela Couto, Sara Carinhas, Afonso Pimentel, João Santos, José Pinto.

4 comments:

Hélder Beja said...
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Hélder Beja said...
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Hélder Beja said...

Não vi o filme porque estou longe de todos os lugares onde ele pode ser visto.
Mas já não é este o primeiro espaço onde leio algo acerca do "característico mundo do Portugal profundo, com as suas superstições, as suas lendas, o seu catolicismo medieval, habitado por pessoas fechadas e desconfiadas".
Não colocando em causa a qualidade do filme que, espero e confio (na tua opinião, será boa, tenho que dizer aqui que vivi até ao final da minha adolescência nisso a que chamamos Portugal (pelo menos semi) profundo. Era, é uma aldeia perdida no meio do Ribatejo, longe do mar e da fronteira, do Atlântico e de Espanha. 350 habitantes mais coisa menos coisa; e velhos, muitos. Mas não havia, não há superstições gritantes, raras ou nenhumas são as lendas e as gentes são tudo menos fechadas ou desconfiadas.
E como falo desta pequena comunidade que, riam-se, se chama Marmeleira, poderia falar de várias, como a Assentiz, a Arrouquelas, a Louriceira ou as Alcobertas. E não seria muito diferente.
Enfim, não concordo com essa imagem daquele que ainda é às vezes o “meu Portugal”. Mas para um filme a ideia não me parece mal. Se apenas descrevias o que o filme apresenta, então esquece o que escrevo. É que percebi que também era uma opinião pessoal.
Abraço.
P.S. - Desculpa lá isto dos comentários removidos, mas o texto aparecia sempre cortado, não compreendo porquê... Espero que agora fique bem.

Unknown said...

Bom, eu devia ter escrito 'dum certo' Portugal profundo. Penso que será mais tipicamente um Portugal profundo do Norte, onde o lado católico está mais presente. A mim garanto-te que despertou algo da minha infância...

Um abraço para Salamanca!