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2.5.05

A queda



Baseado nas memórias da secretária de Hitler, Traudl Junge, eis o relato dos últimos doze dias do ditador no famoso bunker em Berlim. O filme provocou uma enorme polémica, pois para além de ser o primeiro filme Alemão a abordar o tema em 60 anos, foi acusado de humanizar Hitler. O facto de ser Alemão é uma mais-valia inestimável, desde logo pelo simples facto de que é impossivel dar vida aos Nazis sem ser a falarem a áspera e dura língua alemã. Quanto à acusação de mostrar um Hiltler 'humano', penso que erra completamente o alvo. Com certeza que ele era um homem, não era um entre abstracto simbolizando o mal, e essa dimensão 'humana' (fazer festas ao cão, ser simpático e cortês com a secretária, demonstrar amor por Eva Braun) só aumenta o nosso horror, pois mostra-nos que o mal absoluto pode vir de um ser humano como nós. Além disso, o retrato do ditador é tudo menos simpático: é-nos mostrado um Hitler fanático, paranóico, racista, alheado da realidade, megalómano, com acessos de fúria, exigindo uma fidelidade acrítica e submissa a todos. Ou seja, são-nos mostradas as fraquezas e idiossincrasias de um ser humano, sem dúvida, mas nunca nos esquecemos que estamos a ver um criminoso. Neste aspecto penso que o filme é bastante realista, ou verdadeiro se se quiser. Bastante realistas são também as cenas de guerra passadas fora do bunker. Longe de descentrarem o filme, estas cenas, mostrando uma Berlim caótica e a arder, com as forças Russas cada vez mais perto, servem para realçar o alheamento demente que se passava no interior do bunker, com Hitler movendo no mapa divisões há muito destroçadas, planeando contra-ataques sem ter homens para isso, ordenando fuzilamentos impossíveis de cumprir.
Outro aspecto que penso que o filme trata corajosamente (e só um filme Alemão o poderia fazer) é o da relação entre os altos dignitários nazis (quem mandava) e o ‘povo’ alemão. Quando 60 anos depois ainda é difícil compreender o que levou grande parte de uma nação a seguir os planos criminosos de Hitler, este é um assunto incontornável a que ‘A queda’ não foge. Temos aqui a visão dos dois lados: quando alguns oficiais querem seguir uma estratégia que permita salvar o maior número possível de vidas civis, Goering responde que ‘os Nazis não se impuseram ao povo, antes foram mandatados por ele’, não podendo portanto ser feita essa separação; Hitler vai mais longe - diz que se o povo perder a guerra, então é porque não merece viver, chegando mesmo a fazer uma comparação com os macacos em que os mais fracos são espezinhados até à morte. Do lado do ‘povo’, digamos assim, aparece-nos no final do filme Traudl Junge, herself, a dizer que talvez fosse possível na altura tentar saber mais do que se estava a passar… Que outra coisa poderia dizer?

1 comments:

O Puto said...

É um registo notável, com uma abordagem mais próxima da pessoa de Hitler, e falado na sua língua. Como quase todos os homens, tinha virtudes e defeitos, amava e odiava, mas, infelizmente, teve muito poder, se bem que este filme retrata a queda política e militar do Reich, bem como a sua própria decadência física e ideológica.