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16.6.16

Como ver um filme


Não fiquei inteiramente convencido com este livro de David Thomson, que me pareceu algo desequilibrado. Mas nunca é de mais destacar a edição, por cá tão rara e errática, de um novo livro de cinema.
Thomson é um crítico consagrado (é autor do clássico "The New Biographical Dictionary of Film") e era bom que outros críticos, actuais e do passado, passassem a ter livros traduzidos em Portugal.

31.7.15

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Ao organizar o concurso de 'Bom Dia Tristeza',  Otto Preminger não andava à procura de Cécile, mas de Jean Seberg, e quando a encontrou, a questão que enfrentou não foi a de saber se "será digna de uma Cécile", mas antes: "Será que Cécile é digna de ser concretizada por Jean Seberg?"
François Truffaut, in Os Filmes da Minha Vida

31.5.15

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29.3.15

Fernando Lopes - Um Rapaz de Lisboa


No prefácio, Jorge Leitão Ramos (JLR) esclarece-nos perfeitamente sobre o livro que pretendeu escrever: "Sabia que não tinha nem o tempo nem os meios para uma biografia "à americana", daquelas que vasculham arquivos em vários pontos do mundo". Por isso, acrecenta,  "Fui aos meus arquivos, à minha memória, revi os filmes (...) e tentei um trabalho onde a vida, a obra e a sua recepção contemporânea fossem o essencial. E conclui com alguma modéstia: "(...) chamar-lhe-ia uma quase-biografia de Fernando Lopes".

Ora pode-se dizer desde já que o autor cumpriu com boa nota estes objectivos. Ao longo do livro a vida 'pessoal' de Fernando Lopes vai sendo passada em traços largos (a ida para Lisboa, os casamentos), mas centrando-se a atenção de JLR quase totalmente no seu perfil mais público, nos filmes e na relação de Fernando Lopes com os meios intelectuais (e boémios) da sua época, em que um grupo de intelectuais, de diversas origens e tendências, mas todos cansados do provincianismo salazarista do país, se encontrava em tertulias pela noite lisboeta (no Ribadouro, no Vává): escritores como Baptista-Bastos, Nuno Bragança e Cardoso Pires, o fotógrafo e distribuidor Gérard Castello Lopes, o músico jazz Luiz Villas-Boas, ou os cineastas António Pedro Vasconcelos, César Monteiro e Seixas Santos ("um trio temível e inspirado, autointitulado os kimonistas em homenagem a Mizoguchi"). Muitos destes nomes, e outros, seriam colaboradores de Fernando Lopes ao longo da sua obra, e este livro é também um bom retrato desta geração que estaria na base do Cinema Novo e alteraria de vez o panorama cinematográfico português.

O importante papel de Fernando Lopes como director da revista Cinéfilo e, mais tarde, do canal 2 da RTP, merecem capitulos próprios, mas são os filmes e a "sua recepção contemporânea" que  ocupam o grosso do livro.

JLR é minucioso na análise da recepção do público e da crítica a cada filme, detalhando o número de espectadores (o filme com maior audiência seria 'Crónica dos bons malandros', com não mais de 70.000 espectadores) e as estrelas dadas pela crítica (incluindo por si próprio, que trata na 3ª pessoa, "JLR no Expresso deu 3 estrelas", provocando um efeito algo insólito no leitor...; mas diga-se que o único vestigio da escrita rebuscada que JLR derrama no Expresso só aparece neste livro quando JLR se auto-cita; de resto o crítico apaga-se um pouco perante o jornalista - e faz bem).

Fernando Lopes em The Lovebirds, de Bruno de Almeida.

É também através da análise aos filmes, que JLR nos faz entrar um pouco mais no lado privado de Fernando Lopes, quer seja a relação com a mãe ('Nós por cá todos bem'), com o pai e alguns amigos da "classe alta" ('O Delfim') ou as circunstâncias que levaram ao seu divórcio de Maria João Seixas ('Os sorrisos do destino'). É ainda realçada a teia de cumplicidades que o realizador foi tecendo, adaptando livros de amigos (Cardoso Pires, Carlos de Oliveira, Tabucchi) e colaborando com outros em argumentos (Baptista-Bastos, Vasco Pulido Valente).

Se as críticas aos seus filmes depois de 'Belarmino' e de 'Uma abelha na chuva' foram sempre desiguais, uma coisa parece inequívoca: o "lugar muito especial" que Fernando Lopes - o cineasta e o homem -  "ocupa na nossa cinematografia, no nosso tempo, no coração dos membros da comunidade cinematográfica", para citar JLR. Como acrescenta bem o biógrafo, os convites que lhe foram feitos para participar como actor em filmes seus, por cineastas de gerações diferentes (Bruno de Almeida, Jorge Silva Melo, Gonçalo Galvão Teles) são uma "demonstração de afecto absolutamente inédita em todo o cinema português".

Mostrar-nos o porquê deste lugar único que Fernando Lopes ocupou , não é o menor dos méritos deste livro.

25.2.12

As imagens bastam


Nascido para o cinema no tempo do mudo (tinha cerca de 15 anos quando o som se instalou), Langlois era de opinião que as informações são dadas pelas imagens e que o deleite diante de um filme não depende da percepção dos diálogos. Os futuros cineastas da Nouvelle Vague que quase nada sabiam de inglês viram dezenas de filmes americanos sem legendas  na cinemateca de Langlois e deram testemunho que isso os obrigava a prestar mais atenção aos elementos da mise en scène, à iluminação, à montagem.

[...] Bénard conta uma experiência pessoal que teve neste domínio, quando Langlois de passagem por Lisboa, lhe pediu para ver 'O Passado e o presente', de Oliveira. Como a cópia não tinha legendas, Bénard sentou-se ao lado dele e foi traduzindo, mas Langlois mandou-o calar: "Se o filme for bom não preciso para nada que me conte a história. As imagens bastam-me". Riu-se e acrecentou: "Le cinéma muet".
in Magníficas obsessões: João Bénard da Costa, um programador de cinema, de António Rodrigues

28.4.11

Caminhar no gelo


"No final de Novembro de 1974, um amigo ligou-me de Paris a dizer-me que Lotte Eisner estava gravemente doente e que provavelmente morreria. Eu disse que não podia ser, não agora, o cinema alemão ainda não a podia dispensar, não podíamos permitir que ela morresse. Peguei num casaco, numa bússola e num saco de desporto contendo o estritamente necessário. As minhas botas eram novas e robustas, confiava nelas. Segui pelo caminho mais directo até Paris, com a firme convicção de que ela viveria se eu fosse ter com ela a pé."

(a chegar às livrarias, descoberto via)

2.2.11

Kazan


O 27º livro da colecção "As Folhas da Cinemateca" acaba de sair. É dedicado à obra de Elia Kazan. Os textos são assinados por Joana Ascensão, João Bénard da Costa, Luís Miguel Oliveira e Manuel Cintra Ferreira. Como é norma da colecção, para além de textos sobre cada um dos filmes do realizador, o livro inclui uma biografia e uma filmografia, fichas técnicas completas, sinopses e fotografias.

24.12.10

Hiperdulia

Conheci a rapariga com quem viria a casar depois de encontrar um bilhete dela na casa do porteiro, em Billiol,  a protestar contra a minha inexactidão ao escrever, numa crítica cinematográfica, sobre a "veneração" que os católicos romanos tinham à Virgem Maria, quando devia ter usado o termo "hiperdulia". Fiquei interessado por ver que alguém levava tão a sério estas subtis distinções de uma teologia inacreditável, e assim nos conhecemos.
Graham Geene, Uma espécie de vida - Autobiografia (Livros do Brasil, 2004)

6.11.10

It's no coincidence that this film is masterpiece


Ozu not only drunk more than perhaps any other major film director, he saw in this habit the source of his artistic strenght.

Usually Ozu's comments in the diary that he and [his co-writer] Noda (and anyone else who happened to be there) kept were confined to poetical remarks about the weather (in the most arcane of kanji) and an accounting of how much of which kind of alcoohol he had drunk that day (he preferred scotch, but he also drank sake and relatively inexpensive Japanese whiskeys). In an entry of July 7, 1959, however, written in elegant imitation of classical forms, he observed, "If the number of cups you drink be small, there can be no masterpiece; the masterpiece arises from the number of brimming cups you quaff." He descends from these heights in the following line: "It's no coincidence that this film [Floating Weeds] is masterpiece - just look in the kitchen at the row of empty bottles".

Ozu, Donald Richie

29.3.10

Kaurismäki é estranho, a Finlândia não


Os encantadores finlandeses que conheci não tinham nada de tenebrosos nem graves. (...) Não só não eram tenebrosos, como tinham humor e eram perspicazes, amáveis, comunicativos. Não se encontravam estranhezas dignas de registo. Anotei isto na dinâmica esplanada do Grande Hotel Kamp: "[Aki] Kaurismäki é estranho, a Finlândia não."

Enrique Vila-Matas, Diário Volúvel, Editorial Teorema

19.3.10

Os empregados dos correios


"Primeiro, aconteceu o nascimento técnico da televisão. Como a gente do cinema não quis ter nada a ver com isso, os empregados dos correios tiveram que se encarregar do assunto, aqueles que eram responsáveis pela comunicação. A televisão tornou-se hoje, portanto, num minúsculo posto de correio. Mal precisamos de ter medo dela, pois ela é muito pequena  e temos que estar perto da imagem. No cinema, pelo contrário, a imagem é grande e atemorizante e olhamo-la a alguma distância. As pessoas preferem hoje, ao que parece, ver uma pequena imagem de perto a ver uma grande imagem de longe."

Jean-Luc Godard

(retirado dos depoimentos feitos no filme Chambre 666, de Wim Wenders, rodado em Maio de 1982)

in 'A lógica das imagens', Wim Wenders, Edições 70

12.3.10

Boa nova


Está aí mais uma edição das Folhas da Cinemateca, dedicadas a João César Monteiro, com textos de João Bénard da Costa, Luís Miguel Oliveira, Manuel Cintra Ferreira e Maria João Madeira.

(via O Funcionário Cansado)

5.1.10

O Sindicato dos Polícias Iídiches























Há uma lei antiga e implacável que qualquer aspirante a cinéfilo aprende cedo: a que determina que 99% das adaptações à tela  de livros da sua estima serão uma boa porcaria. Tem também um corolário: não há cinéfilo que, não obstante, deixe de aguardar com expectativa e por vezes com nervoso miudinho a tal próxima adaptação.

Vem isto a propósito da ansiedade que me invadiu quando descobri (está escrito na badana do livro, mas nem reparei) que os irmãos Coen estão a adaptar o viciante 'O sindicato dos polícias Iídiches', de Michael Chabon.

Neste caso, porém, tenho atenuantes. Não só os manos fizeram um excelente trabalho com McCarthy e 'Este país não é para velhos', como não imagino ninguém mais adequado do que eles para levar à tela este irónico noir, passado num Alasca imaginário povoado de judeus (foi lá, e não em Israel, que arranjaram refugio após a 2ª Grande Guerra), e que Rogério Casanova descreveu como sendo um "pastiche simultâneo de Raymond Chandler e Lenny Bruce e cuja metáfora central é um problema de xadrez concebido por Nabokov".

20.11.09

Épicos

















(...) penso que, actualmente, uma vez que os homens de letras parecem ter negligenciado os seus deveres épicos, a epopeia, estranhamente, foi salva para nós pelos westerns.

Jorge Luis Borges in 'Entrevistas da Paris Review', Tinta da China Edições

(Julho de 1966)

16.11.09

Megafone






















[O cinema] é de tal modo um meio do realizador que, dos filmes, surgiu apenas um escritor, trabalhando exclusivamente como guionista, a quem pode ser atribuida a designação de génio do cinema. Refiro-me áquele tímido e encantador camponês que foi Zavattini. Que sentido visual! Oitenta por cento dos bons filmes italianos foram feitos a partir de guiões de Zavattini - todos os De Sica, por exemplo.
De Sica é um homem fascinante, uma pessoa talentosa e profundamente sofisticada; no entanto, é acima de tudo um megafone de Zavattini, os filmes dele são em absoluto criações de Zavattini: todos os matizes, os ambientes, o mais pequeno pormenor está claramente indicado nos guiões de Zavattini.

Truman Capote in 'Entrevistas da Paris Review', Tinta da China Edições

30.10.09

Queria dar-lhes a oportunidade de saírem

"Sabia que teria de adicionar uma espécie de prólogo de cinco minutos: os primeiros três permitiriam à audiência acostumar-se ao carácter invulgar do filme, para poder decidir se quer ou não sair da sala. Queria dar-lhes a oportunidade de saírem, no caso de pensarem que talvez durante a próxima hora e meia o filme apenas mostrasse aviões a aterrar."

Werner Herzog, a propósito de 'Fata Morgana',  in  'Sinais de vida. Werner Herzog e o cinema', Grazia Paganelli, Edições 70

23.10.09

Exactamente

"A fotografia de Azul de Kieslowski é muito bonita mas é demasiado assinada, tem demasiados filtros, demasiados efeitos pessoais da parte do director de fotografia.
Isto acontece por vezes com os maiores responsáveis pela fotografia: a fotografia pela qual Nestor Almendros ganhou o Óscar, a de Dias do Paraíso [Terence Malick, 1978], é o exemplo de um trabalho em que o técnico faz valer demasiado a sua presença. Isso pode depender do filme: em Black Narcisus [Quando os sinos dobram, 1947], de Michael Powell, o director de fotografia, Jack Cardiff, fez uma obra extravagante e muito bem conseguida."

Pedro Almodovar, no imprescindível  'Conversas com Pedro Almodovar', Frédéric Strauss, 90º Editora.

12.1.09

Snobs



Ao sair, [William] Wyler disse-me que pensava que a qualidade da crítica cinematográfica americana não tinha melhorado em relação directa da dos filmes e que não era de nível tão elevado como na Europa. Como exemplo assinalou-me que um dos seus filmes , The Big Country, tinha obtido uma recepção maravilhosa na Europa e pouco fizera na América. "Na Europa, sabe" disse, "são tão snobs como em Nova Iorque. Preferem os filmes estrangeiros."

Peter Bogdanovich in 'Nacos de tempo - Crónicas de Cinema'

18.12.08

3 em 1 (ou o método Corman)



Beech Dickerson é provavelmente o único actor na história a 'tocar tambor no próprio funeral', tendo interpretado o morto e um dos participantes no funeral, em Teenage Caveman (num triunfo do casting polivalente, interpretou também o urso que matou o falecido).

Gary Morris in 'Roger Corman - O anjo selvagem de Hollywood', o catálogo da Cinemateca dedicado ao realizador.

28.11.08

58



Fazendo contas, Henry Chancellor notou que Bond se deitou com 14 mulheres nos livros que Fleming escreveu, contra 58 nos filmes (...)

José António Barreiros in '00Fleming - Ensaio sobre a imortalidade', livro assaz estranho na sua concepção, mas ainda assim bastante interessante, onde o autor tenta provar que há bastante substância nos livros de Fleming, mas que os filmes com 'o seu harém de espampanantes Bondgirls deram causa a um naufrágio literário'.