Recent Posts

14.7.05

Clean




Olivier Assayas é um mestre na manipulação de ambientes urbanos sofisticados com banda sonora a condizer. Às vezes leva essa sofisticação a níveis exagerados que desvirtuam e plastificam o resultado final. No caso de Clean a insistência no pequeno papel ridículo de Tricky ou de colocar David Roback dos Mazzy Star a produzir um disco de Maggie Cheung quando ela mal sabe cantar são exemplo. De qualquer maneira Clean assenta numa base sólida muito por mérito das interpretações de Cheung (Emily Wang) e Nick Nolte (Albrecht Hauser) e resiste a alguns abalos. O filme coloca uma pessoa com uma vida singular - mulher de uma estrela de rock, ex apresentadora da MTV e cantora underground - em situações comuns derivadas da morte do marido por overdose. Emily Wang debate-se com a sua inaptidão e repulsa para levar uma vida normal e a necessidade de abandonar as drogas para ter esperança em recuperar a custódia do filho a cargo do avô. A estória podia ser um cliché mas Assayas desenvolve-a num mundo desconhecido e apelativo mostrando-nos os meandros do meio musical. Depois vêmos Cheung exposta e vulnerável como nunca a tínhamos visto nos filmes de Wong Kar-wai, o que talvez se explique por Cheung ter sido casada com Assayas e de a personagem de uma mulher entre culturas, sem raízes e que viveu em vários países (o filme passa-se em Vancouver, Londres e Paris) se assemelhar à sua vida. A interpretação deu-lhe o prémio para Melhor Actriz no Festival de Cannes. O contraste da insegurança e revolta de Emily com a figura paternal - firme mas generoso e justo - de Albrecht nos diálogos entre os dois é o melhor do filme. Tecnicamente Assayas é irrepreensível. A fotografia é lindíssima e a banda sonora criteriosamente escolhida. Nesse capítulo lamento nunca ter visto Demonlover, filme de Assayas de 2002 com música dos Sonic Youth. Como foi possível ter deixado passar isso?

1 comments:

Lenore said...

O clean é um dos melhores filmes que vi nos ultimos tempos.Absolutamente delicioso.