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4.7.05

Home at the End of the World/Uma Casa no Fim do Mundo


Há personagens que marcam de forma tão indelével a carreira de um actor que põem em causa o seu futuro. Aconteceu com Malcolm McDowell em Clockwork Orange, só o voltámos a ver esporadicamente em papéis tipificados de psicopata, aconteceu com John Travolta que depois de Grease e Saturday Night Feaver gravitou em filmes menores até ser recuperado por Tarantino em Pulp fiction. Ainda hoje Travolta não se livra de dar um pezinho de dança em quase todos os filmes em que participa. Aconteceu com Sissy Spacek, uma das actrizes deste filme. É impossivel vê-la sem que as imagens de um arsenal de facas de cozinha a voarem na sua direcção em Carrie não abram umas janelas de 'pop-up' no nosso cérebro. Fica o desafio a quem nos visita de deixar mais exemplos de que se lembrem.

Mas vamos ao filme: Acompanhamos três décadas na vida de Jonathan e Bobby desde a infância e adolescência na pacata Cleveland dos anos 60 e 70 até à fervilhante Nova Iorque dos anos 80. Três actores interpretam cada uma dessas fases das duas personagens principais. Acompanhamos também um pouco da evolução do comportamento sexual e social - e essa é a parte mais interessante do filme - desde o amor livre e as festas de swinging de final dos anos 60, passando pelo flower power e o movimento hippie no início dos anos 70, o punk e os songwriters de final de 70 até ao kitsh, ao início do movimento gay nos Estados Unidos, ao aparecimento da sida e ao começo da música electrónica de 80 (não falta o casaco de cabedal à Depeche Mode de Just can't get enough). Em Portugal só começámos a perceber o significado das palavras Gay e Sida com a morte do grande António Variações.

Chegados aos anos 80, Clare uma estilista de chapéus trendy Nova-Iorquina forma com Jonathan e Bobby um triângulo amoroso, mas em vez do habitual "Boy Loves Girl who Loves Boy" temos uma espécie de "Girl Loves Gay Boy (Jonathan) that likes her but Loves Bobby Who Loves Everyone". Há frases que em Português soariam muito mal... Confusos? Se virem o filme acharão tudo muito natural. Para Jonathan, Bobby e Clare o sexo não é mais do que a continuação natural do amor que sentem.

Se tivesse sido feito nos anos 80 hoje seria certamente um filme de culto para muitos adolescentes daquela altura, assim é um objecto curioso mas limitado.

PS: A Home tem uma das mortes mais brutais e inesperadas dos últimos anos, rivalizando com as cenas iniciais dos episódios de Sete palmos de terra.

1 comments:

Unknown said...

O Ben Kingsley com o Gandhi.