Os lisboetas de que o título deste documentário fala são os imigrantes que vieram procurar uma vida melhor na capital portuguesa. Africanos, brasileiros, chineses, paquistaneses e, principalmente, europeus de leste. Chamar-lhe lisboetas, disse o realizador, é já "um acto político". Sem dúvida, mas não se pense que estamos aqui perante um manifesto género Michael Moore. Nada disso. Sergio Trefaut prefere um papel 'invisivel', o de mostrar cenas da vida destes imigrantes e deixar as conclusões para o espectador. Temos assim a oportunidade de ver o país de fora, num sentido duplo: através dos olhos destes recém-lisboetas e através dos nossos próprios do lado de cá da câmara. E a imagem não é muito boa. Algumas das cenas mais conseguidas do filme são as que nos fazem rir das nossas próprias misérias, por exemplo quando uma russa em conversa com um familiar gaba o clima português (está na praia), mas se lamenta do péssimo sistema escolar do país; ou quando vemos um pequeno empreiteiro a tentar arranjar mão de obra barata e explorada, numa cena digna do Gato Fedorento. Ou seja, ao mostrar-nos como tratamos os que vêm de fora, ao mostrar-nos a sua vida e opiniões, Trefaut está-nos a retratar a nós. Que fiquemos mal na fotografia, não é certamente culpa dele. Afinal de contas, qual de nós espectadores, não reconhece o Portugalzinho aqui fotografado?
Lisboetas, Portugal, 2004. Realização: Sérgio Trefaut. Documentário.
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