Recent Posts

18.7.06

14º Curtas Vila do Conde


Rapace, de João Nicolau

Tendo assistido a quatro das dez sessões da competição internacional do Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde 2006, pareceu-me que a qualidade média era bastante razoável, pese embora não ter visto nenhuma obra-prima. Estava assim com bastante curiosidade em assitir às duas sessões destinadas aos filmes premiados, mas infelizmente as escolhas do juri (composto pelo realizador americano Bruce Posner, 0 crítico de cinema francês Philippe Azoury e a jornalista Maria João Seixas) não corresponderam ao nível qualitativo que esperava - a segunda sessão de filmes premiados foi mesmo a pior das seis que vi!
No ano em que pela primeira vez o Grande Prémio foi atribuido a um filme português, 'Rapace', de João Nicolau, podemos dizer que três anos depois da sua morte, João César Monteiro surge como uma referência para uma geração de novos cineastas portugueses. Se 'Rapace' tem uma parte final com estética kubrickiana e um ambiente geral de filme independente americano, é no entanto no realizador da Figueira da Foz que pensamos automaticamente ao vê-lo. As personagens da empregada e do menino (Sr.Mestre!), todos os diálogos, até o divertido rap cantarolado (assim de memória, é algo no género 'no meu bairro todos votam PS e nada acontece, eu voto BE não sei bem porquê, é algo pos-PC'), é tudo Monteiro puro. João Nicolou absorve bem, no entanto, estas influências e compõe uma curta com personalidade própria e tem ideias de cinema originais. Não desenvolvendo muito as personagens, nem podendo muito sustentar uma 'história' em 25 minutos, ficam no entanto esboços interessantes e um retrato consistente de uma certa juventude. Não foi o melhor filme que eu vi, mas foi dos mais interessantes, e João Nicolau é sem dúvida um realizador a seguir com atenção. João César Monteiro é também o nome que surge inevitavelmente ao vermos 'Cântico das criaturas', de Miguel Gomes, Grande Prémio da Competição Nacional. Infelizmente aqui não podemos falar em 'inspirado em', ou em 'homenagem a', mas sim em 'cópia de'. É, sem tirar nem pôr, uma imitação desinteressante do César Monteiro da altura de 'Silvestre'... Os restantes premiados também não se elevaram a grandes alturas, com excepção de 'By the kiss', Prémio UIP, uma curta francesa de Yann Gonzalez, com apenas 5 minutos em que observamos somente uma jovem a ser beijada arrebatadamente à vez por diversas pessoas, sob uma música envolvente. Às tantas parece que estamos a assistir a uma cena emocionalmente muito poderosa, quando na realidade não temos qualquer contextualização nem nada a priori que justifique este sentimento. Metáfora sobre o poder do cinema? Dos restantes prémios, como dissemos, não rezará a história: 'Rabbit' vencedor do Prémio animação, é divertido e até certo ponto original, mas está longe de ser uma obra-prima; 'Quelques miettes pout les oiseaux', documentário anódino sobre vendedores de gasolina na fronteira do Iraque (pois...) levou o prémio da categoria; o Prémio vídeo musical foi para o inglês Thomas Hicks, com um vídeo competente para uma bela música dos Gravenhurst; o Prémio do público (e os votados pelo público foram completamente diferentes dos escolhidos pelo juri) foi para 'À bras de corps', uma curta bem filmada e interpretada, sensível mas não muito original, sobre dois rapazinhos que se preparam para um dia na escola enquanto a mãe, algo misteriosamente, não consegue acordar; finalmente 'Ressonating surfaces', do belga Manon de Boer, Prémio filme experimental, encerrou a sessão e o festival, tendo os seus 39' sobre Rolnik, uma psicanalista brasileira que conviveu com Deleuze e Guattari, quase sempre com imagens desfocadas ou o écran em branco, provocado uma debandada geral do público...
Para o ano há mais.

2 comments:

filipelamas said...

Parabéns pelo interessante relato destas curtas!

Unknown said...

Obrigado, aparece sempre.