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2.7.06

A Condessa Russa



James Ivory tem um estilo a que, à falta de melhor, se costuma chamar académico. Com isto pretende-se designar uma produção cuidada, uma realização atenta e elegante mas sem rasgos de maior, um cuidado geral posto na coisa, que faz com que o produto final seja quase sempre se não distinto, pelo menos gracioso. Pode-se dizer que é um realizador da velha escola que dá primazia ao argumento, ancorando-se quase sempre em escritores de prestigío - Henry James, E.M.Forster e agora novamente Kazuo Ishiguro. Nos seus melhores momentos chega mesmo a realizar filmes muito bons, como 'Quarto com vista sobre a cidade' e seria provavelmente o realizador que eu escolheria para me adaptar um livro, caso eu fosse escritor - de certeza que se manteria fiel ao espirito da obra, e transporia com cuidado e neutralidade o texto escrito para o grande ecrã.
A acção de 'A condessa russa' passa-se na Xangai pré segunda guerra mundial, então um centro mundano onde diplomatas e espiões de vários países co-habitavam com nobres Russos fugidos do seu país. O filme centra-se no encontro entre dois seres perdidos na vida: um ex-promissor diplomata americano (Ralph Fiennes), que tendo perdido a mulher e cegado num acidente, cegou também metafóricamente para a vida, sendo o seu único desejo gerir um bar onde possa esquecer o que se passa fora das suas quatro paredes; e uma condessa russa exilada (Natasha Richardson), que trabalha como 'acompanhante' num bar, para sustentar a filha e as familiares do marido morto, também nobres russas na sua situação, que aceitam o seu dinheiro mas lhe criticam o modo de vida. Ivory filma com a competência habitual este ambiente de decadência sofisticada, mas precisava de uma actriz com mais chama para dar côr a este romance. Ralph Fiennes por seu lado, tem o perfil ideal para este tipo de papel, mas não consegue evitar alguns dos tiques em que caem todos os actores que interpretam cegos, lembrando assim o espectador, mais vezes do que o desejável, que está a assistir a uma representação. O resultado final é assim algo indistinto e fica a sensação de que este argumento merecia mais, mas mesmo assim não lamentei os quatro euros do bilhete. É que eu nestas coisas sou um bocado conservador: se o argumento for interessante, difícilmente dou o tempo por mal empregue...
The White Countess, Grã Bretanha/Estados Unidos/Alemanha/China, 2005. Realização: James Ivory. Com: Ralph Fiennes, Natasha Richardson, Vanessa Redgrave, Lynn Redgrave, Madeleine Potter, John Wood, Madeleine Daly, Hiroyuki Sanada, Allan Corduner.

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