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16.9.06

Finais felizes



Três dos filmes que este ano estrearam em Portugal com melhores críticas, são oriundos do mesmo universo - o dos chamados 'independentes americanos', uma área com fronteiras cada vez mais esbatidas, mas que enfim, engloba aquelas obras feitas mais ou menos à margem das Majors, dentro daquele espírito que levou à criação do festival de Sundance. São eles 'Eu, tu e todos os que conhecemos' (Miranda July), 'A lula e a baleia' (Noah Baumbach) e este 'Finais felizes', de Don Roos. Em comum têm também a vontade de retratar as relações humanas nas sociedades contemporâneas, mais precisamente de uma certa classe média (ou média alta) americana. Se o primeiro dos três filmes citados é o mais ideossincrático (sendo também, et pour cause, o que teve reacções mais desencontradas), este último é, na minha opinião, o mais 'certinho', o mais normal.
Don Roos usa o esquema de filme-mosaico que P.T. Anderson elevou à quase perfeição em ´Magnolia', para ir mostrando três histórias: uma explora os mal entendidos entre dois casais amigos, um de lésbicas e um de homossexuais, a propósito do filho daquelas; outra mostra-nos como uma jovem talentosa e oportunista (magnifica Maggie Gyllenhaal) usa um rapaz inexperiente e homossexual para chegar ao seu pai viúvo e milionário; e a terceira e mais extravagante, fala-nos de um candidato a realizador de cinema, que chantageia uma mulher e o seu namorado latino para conseguir um documentário! Se acrescentarmos que o realizador vai intercalando tudo isto com informações e comentários escritos no ecrã, pode-se temer o pior - estar perante um daqueles objectos espertalhões e auto-referenciais, tão indulgentes como desinteressantes, que o cinema 'independente' tantas vezes nos dá. Felizmente não é o caso: Roos domina perfeitamente este deambular pelas diversas narrativas, com uma câmara fluida e discreta, os comentários que vão aparecendo dão um tom irónico ao que vamos vendo, desarmando assim as nossas defesas perante um quadro algo estereotipado, e os actores (todos eles) defendem muito bem as suas personagens, embora só três ou quatro sejam verdadeiramente exploradas. Não obstante, há aqui algo que, na minha opinião, falha: apesar de Roos dominar com mestria todos os elementos, falta-lhe aquela marca autoral, aquele traço de originalidade que distingue os grandes realizadores, algo de que Noah Baumbach se aproxima e que Miranda July sem dúvida possui. O resultado é que, como diria um amigo meu a propósito de outras conversas, o filme 'não bate'. Admirei-o, deu-me prazer vê-lo, mas não me emocionou. De qualquer modo, num ano em que Hollywood se tem limitado a cumprir os serviços mínimos, este é um filme bastante recomendável.
Happy Endings, E.U.A., 2005. Realização: Dan Roos. Com: Lisa Kudrow, Steve Coogan, Bobby Cannavale, Maggie Gyllenhaal, Jason Ritter, Tom Arnold, David Sutcliffe, Laura Dern, Sarah Clarke

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