'Mafioso quanto baste' (mais um titulo português idiota) é o regresso do veterano Sidney Lumet aos filmes de tribunal, quase 50 anos depois do clássico '12 Angry Men ' e 25 depois de 'The Verdict'. Naturalmente que quem realizou estes dois filmes, não tem nada a aprender sobre como filmar tribunais, juris ou advogados. O calcanhar de Aquiles de 'mafioso quanto baste' vem de outro lado: nestes filmes em que praticamente só há um cenário (a sala de audiências, aqui), em que a acção se resume quase exclusivamente à palavra, à argumentação - à performance de uma personagem, em suma - o actor que a interpreta é assim a alma do filme e muita da responsabilidade da máquina funcionar ou não cai sobre os seus ombros. Ora neste papel, onde Lumet já contou com Henry Fonda ou Paul Newman, temos agora Vin Diesel. Este é Jackie DiNorscio, um mafioso que resolve representar-se a si próprio no maior julgamento da história americana - dois anos em tribunal para julgar dezenas de arguidos de famílias mafiosas (o filme é baseado num caso real). DiNorscio rápidamente se torna a estrela da companhia, divertindo o júri, irritando o promotor público, desconcertando o juiz. Ele é uma mistura perigosa de palhaço ingénuo com chico-esperto autodidacta, que inevitavelmente baralha o status quo estabelecido com as suas tiradas pouco ortodoxas. 'I'm a gagster, not a gangster' repete ele ao juri.
A questão a que é normalmente mais fácil de responder após vermos um filme costuma ser: é o filme bom, assim-assim ou mau? Neste caso tenho alguma dificuldade em responder. Penso que depende muito do facto de 'comprarmos' ou não a actuação de Vin Diesel. Confesso que eu não a engoli - os seus olhares bacocos, os seus trejeitos patéticos, o seu ar de tosco ingénuo, mais que deliberados, pareceram-me mesmo limitações do actor. Nunca consegui atingir aquela necessária 'suspensão da descrença' - estive sempre mais que consciente de ter diante de mim um actor a representar um papel. Note-se que não há aqui qualquer preconceito da minha parte - mal sabia quem era Vin Diesel, e nunca tinha visto qualquer filme com ele. Pura e simplesmente, acho que a coisa não funciona. Não direi que houve um erro de casting, pois nitidamente este é um projecto de Vin Diesel, ou seja foi o actor a escolher o realizador e não o contrário. Pelo menos nisso revelou bom senso. Lumet não conseguiu esconder as limitações do actor, mas pelo menos enquadrou-o num objecto sólido e bem feito, que talvez contribua para levar a sua carreira para outro rumo.
Find Me Guilty, E.U.A., 2006. Realização: Sidney Lumet. Com: Vin Diesel, Linus Roache, Ron Silver, Peter Dinklage, Alex Rocco, Annabella Sciorra, Aleska Palladino, Richard Portnow.
1 comments:
Obrigado, vou divulgar... e esperar que chegue ao Porto.
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