Mal se soube que Oliver Stone iria filmar 'World Trade Center', a polémica não mais abandonou a obra. Primeiro foi a direita americana a torcer o nariz ao nome do realizador. Isto antes de o filme estrear, porque depois passou a tecer-lhe loas e foi a vez de a esquerda franzir o sobrolho ao seu 'patriotismo'. Não há duvida que é um filme patriota, mas Stone antes de mais é americano, e dificilmente iria escolher um acontecimento em que a América foi atacada para criticar o seu país - não tem lógica a surpresa de muitos por Stone não exibir aqui a sua costela contestatária, presente em grande parte da sua obra. Dito isto, acrescente-se que ser 'patriota' diz tanto dum filme como dizer de uma pintura que é azul ou amarela. Como já foi dito, pelo menos desde Griffith que o cinema americano nos tem dado excelentes filmes 'patriotas'. Deixando agora estas questões laterais que têm toldado a discussão sobre 'World Trade Center', olhemos então para as questões cinematográficas, as que interessam para aqui. Na minha opinião este é um filme totalmente falhado. Stone chega ao tema do 11 de Setembro tomando um desvio interessante: filma dois polícias que foram chamados às torres logo após o embate dos aviões, que ficaram lá presos e que finalmente foram dos raríssimos que saíram de lá com vida. Paralelamente filma a angústia das famílias destes homens, presas à televisão sem saber nada deles, se estão vivos ou mortos. A montagem vai assim alternando os diálogos dos dois homens imobilizados sob os escombros das torres enquanto esperam que surja alguma ajuda, com as reacções das suas mulheres e restante família em casa. Esta abordagem com bastante potencial dramático é arruinada pelo facto de Stone não escapar a nenhum cliché acerca do herói corajoso e íntegro, que tem a mulher perfeita e compreensiva, que forma a família ideal, que veio directamente de um outro planeta. Os diálogos entre os dois homens são irritantemente repetitivos, não saindo nunca do 'se saíres daqui com vida diz à minha mulher que eu a amava muito'. Do mesmo modo a reacção das suas famílias é estereotipada até ao infinito, era um marido tão bom, um pai extremoso, o filho que quer ir salvar o pai e descarrega na mãe, a mãe que se culpa pela reacção do filho, enfim, um puxar à lágrima fácil e superficial. Stone nitidamente não sabe o que há-de fazer com as suas personagens e consegue a proeza de transformar grande parte do filme numa monotonia inacreditável, desperdiçando ainda pelo caminho duas das mais interessantes actrizes da actualidade, Maggie Gyllenhaal e Maria Bello, que só têm banalidades para dizer. Na última meia hora o filme ainda arrebita um bocadinho, quando os dois homens são descobertos por um iluminado que à revelia das autoridades resolveu fazer buscas por contra própria, noite dentro. Aí o companheirismo, a solidariedade, a abnegação das forças de salvamento dão um bocadinho daquele tom humanista, genuinamente heróico, que tinha faltado até então. Infelizmente nem neste momento Stone foge ao lugar-comum, introduzindo um paramédico a quem a droga tinha perdido, que encontra aqui uma espécie de redenção... (bom, pelo menos há uma pessoa neste filme que não é perfeita).
O resultado final é um enorme bocejo, que faz 'Voo 93' parecer uma obra-prima.
World Trade Center, E.U.A., 2006. Realização: Oliver Stone. Com: Nicolas Cage, Michael Peña, Maggie Gyllenhaal, Maria Bello, Jay Hernandez, Armando Riesco, Michael Shannon, Frank Whaley, Stephen Dorff.
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