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26.10.06

A Dália negra



Sempre que se fala de Brian De Palma, fala-se da sua relação com o cinema clássico, com a sua memória cinéfila. Quer homenageando, quer reinventando (os seus críticos utilizarão outras termos...) está sempre presente o seu fascínio e inspiração por algum modelo do passado.
‘A Dália negra’ não foge à regra: é um filme noir (adaptado do já clássico romance de James Ellroy) que segue todas as regras do género sem falhas. Há mulheres fatais, há heróis mais ou menos ingénuos, há vigaristas, há um ambiente enevoado e sujo, há uma aura de decadência e desencanto a pairar sobre tudo. E uma critica à sociedade corrupta e sórdida e, de passagem, à própria Hollywood.
Brian de Palma não desconstrói, não reestrutura, não parodia, não faz referências circulares ao género. Limita-se a fazer um filme noir como eram feitos há décadas. Um espectador do futuro que não tenha mais referências, pode pensar que o filme foi feito em 1946. Neste sentido ‘A dália negra’ é perfeito: o casting (embora Scarlett Johanson seja algo desaproveitada), a cenografia, o plot, a maneira de filmar (aqueles travellings à De Palma). O único pecado que se poderá apontar ao realizador é não inovar, não arriscar, não surpreender. ‘Limita-se’ a fazer uma excelente adaptação de um romance de culto. Quantos filmes o conseguem?
The Black Dahlia, E.U.A./Alemanha, 2006. Realização: Brian De Palma. Com: Josh Hartnett, Scarlett Johansson, Aaron Eckhart, Hilary Swank, Mia Kirshner, Mike Starr, Fiona Shaw.

7 comments:

Hugo said...

De Palma "limitando-se" a adaptar faz melhor do que muitos que se matam para fazer um filme. Eis a pedra-de-toque. :-)

Unknown said...

Não, mas ambos são adaptações de livros do mesmo autor, James Ellroy.
É de facto uma excelente adaptação. E também gostei do L.A.Confidential.

bom fds :)

gonn1000 said...

Um dos piorzinhos que vi este ano... e vi muitos.

Anonymous said...

Eu gostei bastante e de facto está lá um pouco de L.A. Confidential em termos de história, ou não fosse o autor o mesmo. Sempre Noir..

Anonymous said...

Concordo genericamente com o texto, mas olha que a paródia está lá, ou pelo menos a citação, a referência. Ele cita-se a si próprio, por exemplo, e também Orson Welles e Roman Polanski - A Sede do Mal e Chinatown, respectivamente. E apenas reparei nestes. Ah, e Hitchcock - mas isso vem do livro. Aproveito para dar os parabéns pelo esforço de manter o único blogue exclusivamente sobre cinema que visito regularmente. Continuem.

Unknown said...

citação claro, paródia não acho. o que me parece é que De Palma não pretendeu fazer um filme pós-qualquer coisa, tão só um filme de feição clássica, ancorado sem dúvida na sua cinefilia.
e obrigado.

O Puto said...

Quem sabe, sabe. E o sr. De Palma sabe. Remeter-nos para um género clássico nos dias de hoje penso ser louvável. Apesar de lá estarem aqueles pormenores mórbidos que são sua imagem de marca, passeia-se com um à vontade pelo filme negro. De negativo destaco apenas a falta de profundidade de alguns personagens.
[A Hillary esteve muito bem na pele de femme fatale britânica.]