Apocalypto é um épico histórico de grande entretenimento, na linhagem de um Ben Hur, por exemplo. Mas enquanto já todos vimos Gladiadores que cheguem e estamos familiarizados, não direi com a Roma antiga, mas pelo menos com a Roma Hollywoodiana, aqui somos surpreendidos com a estranheza da civilização Maia. Mel Gibson, com a sua reconhecida tendência para a sanguinolência, dá-nos um retrato brutal deste povo, que organizava sacrifícios humanos em massa, e vivia numa opulência decadente, achando ser o povo escolhido. Temos mortes por decapitação, apunhalamento, por pancadas com paus e pedras, com armadilhas para animais, com setas envenenadas e lanças, esfacelamentos por animais selvagens, e há até corações arrancados enquanto ainda batem.
Mel Gibson não tem medo dos riscos, atrevendo-se a fazer um filme destes com actores desconhecidos e falado no dialecto local, mas falta-lhe algo que leve Apocalypto a transcender o estatuto de filme de aventuras eficaz e personalizado que sem dúvida é. A falta de um olhar mais forte do outro lado da câmara nota-se quer em cenas grandiosas como a do eclipse durante o sacrifício (claramente desperdiçada), quer naqueles pormenores que fazem a diferença. Por exemplo, há uma cena em que o 'herói' faz uma pausa na sua fuga de um grupo de inimigos e afirma bem alto algo do género 'eu sou Pata de jaguar, esta floresta é minha' . Pretende ser um momento de afirmação da distinção deste homem, mas não podemos deixar de sentir estas palavras se não como um eco ténue e esbatido das famosas palavras ensandecidas de Don Lope de Aguirre, numa dessas mesmas florestas, murmurando 'Eu sou Aguirre, a cólera de Deus'. É este sopro visionário de um Herzog que falta a Mel Gibson enquanto realizador, se bem que o tenha enquanto produtor de projectos loucos - há sem dúvida algo de iluminado numa star que arrisca parte da sua fortuna num projecto como este.
Mel Gibson não tem medo dos riscos, atrevendo-se a fazer um filme destes com actores desconhecidos e falado no dialecto local, mas falta-lhe algo que leve Apocalypto a transcender o estatuto de filme de aventuras eficaz e personalizado que sem dúvida é. A falta de um olhar mais forte do outro lado da câmara nota-se quer em cenas grandiosas como a do eclipse durante o sacrifício (claramente desperdiçada), quer naqueles pormenores que fazem a diferença. Por exemplo, há uma cena em que o 'herói' faz uma pausa na sua fuga de um grupo de inimigos e afirma bem alto algo do género 'eu sou Pata de jaguar, esta floresta é minha' . Pretende ser um momento de afirmação da distinção deste homem, mas não podemos deixar de sentir estas palavras se não como um eco ténue e esbatido das famosas palavras ensandecidas de Don Lope de Aguirre, numa dessas mesmas florestas, murmurando 'Eu sou Aguirre, a cólera de Deus'. É este sopro visionário de um Herzog que falta a Mel Gibson enquanto realizador, se bem que o tenha enquanto produtor de projectos loucos - há sem dúvida algo de iluminado numa star que arrisca parte da sua fortuna num projecto como este.
Falhando a profundidade, digamos assim, Apocalypso acaba por ser na sua superficialidade uma espécie de filme histórico pós-moderno, versão gore, tal como Marie Antoinette o era numa versão pop - mas enquanto este o era assumidamente, o de Gibson talvez só o seja porque não teve fôlego para mais.
Apocalypto, E.U.A., 2006. Realização: Mel Gibson. Com: Rudy Youngblood, Dalia Hernandez, Jonathan Brewer, Morris Birdyellowhead, Raoul Trujillo, Rodolfo Palacios.
4 comments:
Agora on-line em formato blog a Revista F.I.M. - Festivais de Imagem em Movimento, sobre Cinema e Festivais de Cinema em http://revistafim.blogspot.com/
eu adorei o filme
ah e a banda sonora do filme :)
eu também gostei mais do que o que a critica talvez deixe transparecer...:)
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