Recent Posts

30.4.07

10 filmes da vida de...

... Nuno Pires, 24 anos, realizador, autor do blogue Dans la ville blanche.
Esta lista não pretende apresentar as minhas "obras primas do cinema", mas sim filmes que têm um valor especial para mim, pelo que representam ou representaram no meu percurso enquanto homem, realizador e cinéfilo.



Magnolia, de Paul Thomas Anderson
É o filme mais recente desta lista mas tenho de começar por ele. Magnolia foi a obra que despertou a minha vontade de fazer cinema, quando a vi, aos 18 anos. Se não tivesse visto este filme naquela altura, acredito que a minha vida teria sido outra. Anderson criou uma sinfonia sobre a humanidade como já não existem no cinema contemporâneo. Trágica, arrepiante, salvadora. "Save me", canta Aimee Mann na última cena... Também foi com este filme que descobri a obra da Aimee Mann, que continuo a acompanhar com admiração.

Sunrise, de Murnau
Depois do mais recente, o mais antigo. Nem são precisas palavras para justificar esta escolha. Sunrise é provavelmente a história de amor mais forte da história do cinema, forte pela simplicidade do seu argumento e pela complexidade da sua realização. Tive a oportunidade de o estudar durante alguns meses, criando assim uma relação muito íntima com esta obra.

Le Mépris, de Jean-Luc Godard, e Otto e Mezzo, de Federico Fellini
Duas declarações de amor ao cinema, dois filmes sobre a eterna solidão do cineasta e as dificuldades com que tem de lidar — dificuldades internas (mentais, psicológicas) e externas (nomeadamente perante a figura do produtor). Dois filmes que falam por mim, que falam de mim...

La Cérémonie, de Claude Chabrol
A obra mais conseguida de Chabrol, na minha opinião. Um filme que condensa os temas de eleição de realizador: a luta burguesia/proletariado, o ambivalência aparências/realidade, o crescimento do mal em meios fechados que são a aldeia e a família. Cada plano é uma lição de cinema na grande tradição hitchcockiana.

Rear Window, de Alfred Hitchcock
Falando dele, Hitchcock é sem dúvida um dos grandes mestres que admiro desde a infância. É quase impossível distinguir um filme na sua obra. O primeiro filme que me lembro de ter visto foi The Birds (é, aliás, o primeiro filme de que me lembro), mas penso que foi Rear Window que sempre me fascinou mais, pelo tema do voyeurismo, pelo James Stewart, pela Grace Kelly, por aquele cenário fechado no qual se desenrola tudo, da vida até à morte.

Dans la ville blanche, de Alain Tanner
Dans la ville blanche fazia parte do corpus de filmes da minha tese de Mestrado, que escrevi um ano antes de vir viver para Lisboa. Filme sobre a solidão, sobre a vontade de desaparecimento e o esquecimento de si próprio, mas também sobre cinema, influenciou em grande parte a minha mudança e o início da minha nova vida.

Sur la plage de Belfast, de Henri-François Imbert
Outro filme importante a nível pessoal, é este documentário de Henri-François Imbert. Neste filme, Imbert conta a sua investigação para entregar a um família desconhecida uma película Super 8 que ele descobriu numa câmara, numa feira de antiguidades. Partindo de um facto menor, Imbert constrói um poema. Um gesto de altruísmo, uma viagem de iniciação que despertou em mim o desejo de fazer documentários, fazendo-me perceber a força do real.

Chikamatsu monogatari, de Kenji Mizoguchi
João Bénard da Costa diz que este filme faz parte das cinco obras de arte mais belas de todos os tempos, e acho que concordo com ele. Vê-lo foi uma experiência transcendente, espiritual, absoluta.

Banshun, de Yasujiro Ozu
Acabo com o mais significativo para mim. Descobri o universo de Ozu há pouco tempo, mas tornou-se rapidamente o meu cineasta de eleição. É muito difícil destacar um único filme numa obra tão constante e consistente, mas este talvez seja o que mais encontrou eco no meu coração. Esta história, tão simples, de uma jovem mulher (a deslumbrante Setsuko Hara) que não quer casar para ficar a viver com o pai, é um magnífico exemplo da arte de Ozu na maneira de pintar o quotidiano. Um quotidiano muito específico da sociedade japonesa, mas que Ozu consegue tornar universal. Quando vejo um filme de Ozu, tenho quase a sensação de fazer parte daquela família, de conviver com aquelas personagens. Se pudesse entrar num filme de Ozu, não pensaria nem um segundo: saltava para dentro do ecrã.

Todas as semanas um blogger cinéfilo falará aqui de 10 filmes da sua vida. O próximo convidado é Sérgio Alpendre

2 comments:

Unknown said...

Bom, devo dizer que nunca vi 3 dos 10 filmes desta lista.
Um record, até agora ;)

C. said...

E eu só vi 4. Boa lista, Nuno... com muito Cinema para descobrir! :)