"Em Saragoça, além do tradicional pianista, cada sala tinha o seu explicador, um homem que, de pé, ao lado do ecrã, ia comentando em voz alta o que se passava. Dizia por exemplo:
- Então o Conde Hugo vê a sua mulher passar de braço dado com outro homem, que não é ele. E agora, senhoras e senhores, vão ver como ele abre a gaveta da escrivaninha para pegar no revólver e assassinar a esposa infiel!
O cinema trazia uma forma narrativa tão nova e tão pouco habitual que a grande maioria do público tinha muita dificuldade em compreender o que se passava no ecrã, como os acontecimentos se encadeavam de um cenário para o outro. Habituámo-nos inconscientemente à linguagem cinematográfica, à montagem, às acções simultâneas ou sucessivas, e mesmo aos flashbacks. Naquela altura o povo decifrava a custo uma linguagem nova.
Daí a presença do explicador."
'O meu último suspiro', Luis Buñuel
1 comments:
É um bocado o que se passava com os "benshi" na época do cinema mudo no Japão.
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