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6.5.07

Shortbus



'Shortbus' parece-se com muita coisa e não se parece com nada. É desde logo herdeiro dos já famosos filmes-mosaico tipo 'Magnolia', de um certo tipo de cinema independente americano mais underground, mas deve também muito a alguma da melhor ficção televisiva actual ('L World', por exemplo). Por outro lado as suas (muitas) cenas de sexo explicitas (hetero e homossexual, principalmente gay) afastam-no de quase tudo o que anda por aí.

Apesar desta obsessão com o sexo - todas as personagens passam a vida a fazer sexo ou a falar sobre sexo - este é um ponto de partida e não um ponto de chegada, sendo o filme acima de tudo sobre as carências das suas personagens, sobre a solidão, sobre a impossibilidade de ser feliz, a um, a dois, a três, sobre a dificuldade de comunicação. Não é por acaso que várias personagens filmam ou fotografam situações da sua vida ou da dos outros: é como se precisassem de um intermediário para apreenderem o mundo.

'Shortbus' não dispensa no entanto momentos de optimismo, de excesso, de devaneio, de uma certa exuberância anarquista, como quando irrompe pelo ecrã uma banda húngara, ou quando temos um numero tipo teledisco. Há uma grande liberdade para deixar as coisas fluírem, não há aquela necessidade de seguir um guião e contar uma história em x tempo, como nas séries televisivas. E há também um certo prazer voyeuristico do espectador, perante esta não muito dolce vita dos personagens, mas ainda assim com mais glamour do que a vida de quem tem que se preocupar com o preço das fraldas ou o empréstimo da casa.

Não fica muito claro o porquê das tais cenas de sexo explícito, mas... so what? Talvez tenham sido um ponto de partida, a ver o que dava a partir daí. E, pelo menos, 'Shortbus' é o melhor filme com sexo explícito que já vi.

Shortbus, E.U.A., 2006. Realização: John Cameron Mitchell. Com: Sook-Yin Lee, Paul Dawson, PJ DeBoy, Lindsay Beamish, Peter Stickles, Justin Bond, Raphael Barker, Peter Stickles.

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