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12.6.07

10 filmes da vida de...

...Helena, aka H., 21 anos, estudante de História com sonhos de letras e um amor incontrolável por Cinema. Autora do blogue As Imagens Primeiro.


Rebel Without a Cause (1955), de Nicholas Ray
A obra mais pura e imortal sobre a juventude, que tanto pode pertencer apenas aos EUA dos 50s como ao mundo de hoje. A inocência dos marginais de Nick Ray é das coisas mais bonitas que o cinema me mostrou, essa fome de viver sem saber como, esse desejo de sentir sem se conhecer as regras sociais que sempre constrangem, esse confronto permanente com a rejeição e a morte mas ao mesmo tempo essa efémera possibilidade de encontrar a perfeição no imperfeito mundo real (simbolizada no refúgio de Jim, Judy e Plato na casa vazia)... Pode soar cliché mas os filmes de Nick Ray deram-me uma estranha forma de compreensão. E depois, naturalmente, há James Dean, anjo, mito, homem – inigualável.

The Misfits (1961), de John Huston
Filme de uma beleza avassaladora, é também um filme de anunciação da morte. Não só a de Marilyn e de Gable, que não mais apareceriam no ecrã em novos filmes, mas também a de um mundo, o da liberdade selvagem que a personagem de Gable personifica. Todo o filme é um hino ao tempo condenado, aos instantes de real que vidas gastas aproveitam em peculiares empatias. Os diálogos de Arthur Miller são qualquer coisa de magnífico.

Une Femme Est Une Femme (1961) / Vivre Sa Vie (1962), de Jean-Luc Godard
Dos dois não consigo optar por um. Um mais feliz, outro mais sombrio, estes filmes são autênticas declarações de amor, que bem pode ser definido pela forma como a câmara de Godard capta o rosto de Anna Karina. Obras sobre uma mulher (“a” mulher), a maneira como se encontra e se perde. Impossível não sorrir e chorar com elas, com a explosão de entusiasmo que o Godard me costuma provocar em alguns momentos.

Hiroshima Mon Amour (1959), de Alain Resnais
A imagem excelsa de Resnais e a palavra radical de Duras num filme sobre o peso da memória e, sobretudo, o terror do inevitável esquecimento. Um filme sobre o amor maior, sobre a sociedade que o não aceita, mas também sobre a História, as suas cicatrizes e as marcas indeléveis do que nos formou enquanto seres conscientes de nós.

The Dreamers (2003), de Bernardo Bertolucci
É inevitável não falar neste filme quando me refiro aos “meus filmes”. É um filme de amor ao cinema, de amor ao amor e de amor à liberdade passado numa época que muito me fascina, o Maio de 68 em França. Obra de poesia bruta, sobre seres que se encontram e se complementam em experiências motivadas e exploradas pelo cinema, fazendo de si próprios personagens até já não mais saberem quem são na realidade. A minha ligação a este filme é muito forte e inexplicável, um misto de identificação e fantasia.

Citizen Kane (1941), de Orson Welles
Foi o filme “antigo” com que descobri o cinema “antigo”. Tinha uns 15 anos e senti que estava perante algo que me ultrapassava, mas que me fascinava de forma única. Revi-o depois várias vezes e a admiração por ele só cresceu. E pensar que Welles tinha só 26 anos quando fez esta obra-prima...

Lost in Translation (2003), de Sofia Coppola
Um dos, senão mesmo o filme mais influente da minha geração. Duas almas gémeas que se encontram no limiar da descrença, quando já haviam desistido de uma ideia de completude. Provavelmente das histórias de amor mais comoventes do cinema sem nunca por nunca cair na lamechice. Sofia Coppola vai evidenciando mais pela imagem que pela palavra o retrato interior das suas personagens. Para sempre fica a visão de Bill Murray a acariciar os pés de Scarlett Johansson murmurando-lhe que ainda há esperança para ela.

City Girl (1930), de F. W. Murnau
Podia ter escolhido Aurora, a obra que me revelou esse mestre máximo que é Murnau, e que igualmente venero. City Girl é, tal como Aurora, um filme que mostra fé nas pessoas, mesmo quando elas se fazem sentir rudes e más. Gosto muito da rapariga da cidade do título, uma solitária citadina que vai para casa limpar o pó das flores de plástico e ouvir o pássaro de brinquedo – imagens que são tão pungentes para 1930 como o são agora – e que lutará pelo homem do campo que ama mas cujo pai a despreza. Há uma sequência nos campos entre os dois enamorados que deve ter feito “genealogia” até Match Point...

Os Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha
O filme que me ensinou como o cinema português pode ser perfeito. Retrato da Lisboa cidade dos 60s, de pessoas que a habitaram, da timidez do amor e da ferocidade do mistério humano. Aquela música de Carlos Paredes e aquela canção que é cantada enquanto Júlio dança com Ilda provocam-me arrepios. Como muitas das minhas obras de eleição, é também sobre a juventude que se vai esvanecendo. “Eram enganos e era um medo / A morte a rir / Dos nossos verdes anos...”.

The New World (2005), de Terrence Malick
Se exceptuar o abalo sensorial provocado pelo filme de Jesper Ganslandt na última edição do Indie Lisboa, The New World é sem dúvida o filme dos últimos anos que mais me arrebatou. Terrence Malick é um poeta da imagem, e lega-nos aqui um hino à natureza, ao significado de lar, à evidência da pertença – a uma terra e a um outro ser – ao milagre da união total. É um filme que tem tanto de absolutamente belo como de triste, pois Malick mostra-nos uma hipótese de convivência, uma ideia de paraíso que o homem conspurcou e destruiu. Acima de tudo, a figura magnética de Pocahontas, a minha heroína de fim de infância, que reencontrei e redescobri e me mostrou como existe tanta coisa quando nos abandonados ao sentir – sentir proporcionado de forma única em frente ao ecrã de uma sala de cinema.

Todas as semanas um blogger cinéfilo fala aqui de 10 filmes da sua vida. A próxima convidada é a S.B.

5 comments:

filipelamas said...

Gosto muito desta rubrica!

Unknown said...

boa lista.
retirava sem dúvida 'lost in translation', não acho que seja de todo o filme mais influente da minha geração (e só sou 4 anos mais velho)....

Nuno said...
This comment has been removed by the author.
Nuno said...

De todos, não vi "Os Verdes anos". Concordo com todas as escolhas :)
Obrigado pela partilha.

S.B. said...

Rebel without a cause é um grande filme, sem dúvida. E Verdes Anos é provavelmente o meu filme português favorito (a par de Rosa de Areia, noutro registo). Boa lista!