Pascale Ferran evita duas armadilhas óbvias nesta sua adaptação do romance de D.H.Lawrence. A primeira, a de cair naquele estilo a que se convencionou chamar 'academismo', e que as adaptações de 'grandes romances' costumam atrair como o mel as moscas. Fá-lo, desde logo, usando uma arma poderosa: a fotografia, granulosa, rugosa, mas cheia de vida, que afasta definitivamente qualquer tom de telefilme. Depois o jogo com o tempo, a atenção ao que está para lá das peripécias: os longos passeios de Lady Chatterley pelos bosques, o seu embrenhar pela natureza, vão-nos dando de modo indirecto uma medida da sua personalidade, com um vagar pouco usual. A segunda armadilha era a de cair num erotismo fácil, ou de tentar transpor o efeito de escândalo do livro. Ferram vai por outro lado, e embora não fuja ao erotismo, este é-nos transmitido de uma forma cândida, até ingénua, aproximando-se quase da história de dois adolescentes que vão descobrindo pouco a pouco o seu corpo e o do amante, que se vão iniciando nos jogos do amor.
Como tantas vezes acontece, no entanto, as fraquezas do filme derivam das suas virtudes. Os longos 168 minutos do filme são excessivos, e este por vezes torna-se fastidioso e divagante, enveredando por cenas desnecessárias (como por exemplo o longo episódio 'simbólico' da cadeira empenada de Clifford) e repetitivas (toda aquela ideia recorrente da comunhão entre as personagens e a natureza). E, não obstante a bravura de Marina Hands (excelente papel!), quer a sua personagem, quer mesmo todo o ambiente do filme, se aproximam perigosamente de uma candura quase simplista e naif.
Fica, assim, um filme estimável e até simpático, mas não mais do que isso.
Lady Chatterley, França, 2006. Realização: Pascale Ferran. Com: Marina Hands, Jean Louis Coullo´ch, Hippolyte Girardot, Hélène Alexandridis, Hélène Fillières.
3 comments:
Pois eu achei que o tempo passou a correr, ela podia ter desenvolvido muitas outras coisas do livro que nem menciona e eram relevantes, mas até gostei da adaptação, com muito de livre mas fidelidade ao "espírito".
Para mim entra no top 10 deste ano ;)
Eu gostei do filme aí durante uma hora. Depois o tempo não passou nada a correr. Nada mesmo ;)
E não é que desta vez concordamos?
E a versão original do filme tinha 3h30m, que a realizadora cortou e adaptou para uma mini-série. Talvez nesse formato resulte melhor.
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