Há falta de água em Taiwan. As pessoas vão contornando este facto como podem: tomam banho em reservatórios no topo de prédios; roubam àgua em casas de banho públicas; usam garrafas de água para simular um chuveiro numa cena de sexo num filme pornográfico; bebem sumo de melancia. Há mesmo uma rapariga que desenvolve um fetichismo por este fruto, incluindo-o inclusive nas relações sexuais. E pelo meio há uns inusitados e insólitos números musicais vindos do nada.
É assim o universo de Tsai Ming-Liang, um dos mais idiossincráticos do cinema contemporâneo. O tema anda sempre à volta do mesmo: a solidão, o erotismo vazio, o alheamento das pessoas no mundo actual.
É um cinema de esparsos diálogos, de ritmo lento, de longos mas poderosos planos - cada um vale por si mesmo, como no cinema mudo. Não será certamente um cinema para todos os paladares. Mas quem estiver farto da dieta de filmes 'narrativos' que se assemelham todos uns aos outros, tem aqui o prato ideal para desenjoar.
Tian bian yi duo yun/The Wayward Cloud, França/Taiwan, 2005. Realização: Tsai Ming-Liang. Com: Lee Kang-Sheng, Chen Shiang-Chyi, Lu Yi-ching, Yang Kuei-mei, Sumomo Yozakura, Hsiao Huan-wen, Lin Hui-xun, Jao Kuo-xua.
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