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4.10.07

Uma viagem com Martin Scorsese pelo cinema americano (1/2)




O adjectivo 'pessoal' é a chave do título original ('A personal journey ...') desta magnifica viagem pelo cinema americano, pela mão do seu maior realizador em actividade: Martin Scorsese. Como o próprio diz, o seu objectivo é falar dos filmes que o fizeram tornar-se realizador, que incluem grandes clássicos, claro, mas também filmes hoje esquecidos.

Scorsese começa esta viagem com um filme que viu com a sua mãe quando tinha 4 anos e que o fascinou até hoje. Foi realizado por um dos pioneiros de Hollywood, King Vidor, mas como era costume à época, tratava-se de um projecto pessoal do produtor (que se fartou de interferir na realização até o realizador bater com a porta), o famoso e temperamental David O. Selznick. Esse filme chama-se...'Duelo ao Sol'.

O que mais impressiona neste documentário é a simplicidade com que o realizador nos transmite a sua imensa erudição fílmica, a sua cinefilia, ora mostrando extractos de filmes, ora comentando-os, ora dando a voz aos seus realizadores (Frank Capra, Billy Wilder, Howard Hawks, etc.). Um olhar pessoal fascinante e que contagia. A própria estrutura do documentário é muito interessante, fugindo à 'história do cinema' típica. Scorsese começa por analisar o 'Dilema do realizador', ou seja o compromisso necessário entre a sua expressão pessoal e as pressões comerciais, no fundo o combate entre o realizador e o produtor (e hoje com os executivos das multinacionais donas dos estúdios). Fala-nos do alto preço pago por aqueles que não aceitaram este compromisso (Eric Von Stroheim, Buster Keaton), daqueles que se encaixaram perfeitamente neste sistema (por exemplo, 'Casablanca' foi o 63º de 85 filmes feitos por Michael Curtiz para a Warner!) e ainda daqueles que criaram um estilo próprio tão forte que se tornaram eles próprios um trunfo dos estúdios, tendo direito a ter o nome antes do título do filme (Capra, DeMille, Hitchcock).

Sempre apoiado em comentários inteligentes e pertinentes a filmes que ama, Scorsese guia-nos a seguir pelos filmes de género, a base do studio system, e nomeadamente pelos 3 géneros 'indigenas', que considera os mais interessantes: o western (Ford, claro, mas também Antony Mann ou Boed Buticher), o filme de gansters (de 'Scarface' ao 'Padrinho') e o musical (destaque para Busby Berkley e Minnelli, um nome a que Scorsese volta sempre).

No capitulo seguinte, 'O realizador como ilusionista', Scorcese fala-nos de como o cinema americano se emancipou com D.W.Griffith, tornando-se uma forma de arte por direito próprio, deixando de ser um parente pobre do teatro. Segundo a sua opinião foi nos grandes épicos da década de 10 e inicio de 20, de Griffith ou DeMille, que se experimentaram e descobriram todas as 'ferramentas' que os realizadores usariam daí em diante. No final da década de 20, com 'Aurora' de Murnau ou 'A hora suprema' de Borzage, 'a arte da pantomima' atingira o seu auge. Mas então, chegou o sonoro.
(to be continued)

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