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3.12.07

Promessas perigosas



Um dos muitos motivos que fazem ‘Uma história de violência’ ser um dos filmes mais fascinantes dos últimos anos é o argumento, surpreendentemente adaptado de uma graphic novel: pegando num tema clássico, habitual nos westerns (o homem com um passado misterioso e violento, que tenta levar uma vida ‘normal’ - mas o destino não o permite), parte para uma inquietante reflexão sobre a contaminação pela violência. Em ‘Eastern Promises’ Cronenberg anda novamente à volta da violência, mas o argumento agora é mais ‘plano’, digamos assim. Talvez o realizador já tenha exposto as suas premissas teóricas no filme anterior e agora se ‘limite’ a ilustrar de uma outra forma o tema.
Assim ‘a quente’ (vi o filme ontem e ainda gostaria de o rever) não penso que estejamos na presença de uma obra-prima como o seu antecessor, mas não há duvida que possui uma vez mais um elemento de perturbação que só os maiores realizadores conseguem transmitir.
Se o argumento me parece mais fraco que o do seu antecessor (embora Vigo Mortensen componha novamente uma personagem fascinantemente ambígua, não há nenhuma personagem tão marcante como a de Maria Bello, por exemplo), ainda assim este filme não deixa de se inserir naturalmente no pessoalíssimo universo de Cronenberg - e esta capacidade de um realizador transformar uma história numa coisa sua é a mais segura marca autoral que conheço.
Não é difícil prever o que esta história daria nas mãos de um qualquer tarefeiro, mas podemos mesmo imaginar o que seria nas mãos de um Scorsese, para pegarmos noutro dos maiores. Seria muito diferente certamente, nomeadamente na maneira como nos são apresentadas as cenas de violência. Quem acha que não há aqui a 'marca de Cronemberg', que pense bem nisso.
Eastern Promises, E.U.A./Grã-Bretanha/Canadá, 2007. Realização: David Cronenberg. Com: Viggo Mortensen, Naomi Watts, Vincent Cassel, Armin Mueller-Stahl, Sinead Cusack

3 comments:

Unknown said...

O curioso é que há quem pense que este filme não é um Cronenberg à Cronenberg!
Boa crítica.

Sérgio Lavos said...

O que é um fime à Cronenberg? A Mosca, que já tem vinte anos mas foi um sucesso comercial? Crash, que foi um sucesso em termos de prémios? eXistenZ, um filme falhado? M. Butterfly, uma bizarria no universo do cineasta? Ou filme à Cronenberg são apenas Videodrome e Naked Lunch, e este último acaba por ser o espelho do universo criativo de William S. Burroughs? Grande filme, boa crítica.

Porfirio Silva said...

Eu, que nem sou crítico de cinemas, proponho uma leitura deste filme em Promessas Perigosas, Cronenberg, 2007