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19.2.08

Haverá sangue



Falta, definitivamente, qualquer coisa a este último filme de P.T.Anderson. Eu estava tentado a dizer que falta força a esta história de sangue, suor, petróleo, pioneiros, pregadores, vigaristas e lunáticos. Mas há duas cenas que me fazem hesitar na palavra certa: as cenas simétricas do baptismo de sangue de Daniel na igreja da terceira revelação e posteriormente a da 'confissão' de Eli. O tom assumidamente paródico destas cenas, algo inevitável na segunda, mas deliberado na primeira, mostram que esta falta de força – sempre escolho esta palavra – provém não tanto duma incapacidade do realizador em alcançar um fôlego ‘épico’, como antes do seu falhanço em acertar com o tom do filme. A música que encerra a fita convenceu-me mesmo que a intenção paródica era uma das mais fortes do realizador, mas na minha opinião acaba por descoser o filme, por o quebrar, nunca se tornando este algo mais que uma história de episódios, competente, mas sem aquela característica intestinal e poderosa que o argumento pressupunha.
Aliás, toda a banda sonora é desconcertante: omnipresente, intrusiva, mesmo irritantemente intrusiva, por vezes. Penso que P.T.Anderson procurou experimentar algo com ela, procurou fazer do som um elemento preponderante do filme, tão importante como as imagens, mas o efeito é falhado. O som também parece um intruso, mais um elemento que não encaixa bem, como o episódio do falso irmão, ou outros.
Um filme dispensável, portanto? Nem tanto. Anderson é sempre Anderson e Anderson filma muito bem; e, além disso, bastaria a espantosa mas contida interpretação de Daniel Day-Lewis, um dos grandes actores da actualidade (o maior, diria eu se conseguisse ter essas certezas que ficam bem aos críticos) para valer a pena assistir às suas 2h30. Mesmo que seja, na minha opinião, o filme menos conseguido do realizador até à data.
There Will Be Blood, E.U.A., 2007. Realização: Paul Thomas Anderson. Com: Daniel Day-Lewis, Dillon Freasier, Paul Dano, Ciarán Hinds, Kevin J. O’Connor.

9 comments:

joão moço dos recados said...

Como é possível? Nem acredito no que estou a ler. Mais bem conseguido que isto não vais ver durante algum tempo, podes acreditar. E a banda-sonora encaixa ali na perfeição. Até custa acreditar que haja alguém que não goste de um filme como este.

Capitão Napalm said...

ahaha. Ainda bem que há quem não goste. Não suporto obras consensuais. Aliás, a prova do valor do "..Blood" está mesmo na divisão que o filme tem criado (embora ainda não tenha lido uma crítica propriamente negativa).

Unknown said...

Eu até gostei... mas desiludiu-me.

Hugo said...

Chamem-me mau feitio, mas o filme, no essencial, é um somatório de grandes interpretações (day-Lewis e Dano) e banda sonora. É violento, sim, mas algo esquemático e maniqueista...

Ademar de Queiroz (Demas) said...

Harry,
acho que o filme perde o ritmo em alguns momentos e isso me incomodou um pouco. Mas a direção segura na construção de cenas fortes e memoráveis (como as que você citou e, mesmo, a cena final) faz de "Sangue negro" um grande filme. E tem grandes personagens (o ambicioso petroleiro, seu filho adotivo, o jovem pastor) defendidos por extraordinários atores. Acredito que, no futuro, esse filme terá muito mais expressão do que "Onde os fracos não têm vez".

Abração

Unknown said...

Demas,
Eu assim à partida gostei mais do filme os manos Coen (que não achei uma obra-prima). Mas não digo que o tempo não lhe dê razão...

abraço!

cj said...

grande banda sonora.
pena é que não existam mais filmes onde, mais que um diálogo, o som lute com a imagem.
não sempre, obviamente, mas para a sublinhar, para dar a força de que necessita.
uma coisa é certa: este filme não seria o mesmo sem esta banda sonora...e seria pior.

Unknown said...

Eu neste aspecto sou muito Bressoniano: não gosto quando 'inundam os filmes de musica'. Ainda recentemente isso me incomodou noutro filme: em 'La double vie de Veronique'

She was anouk said...

Eu, depois deste tempo todo, ainda estou a juntar palavras para opinar. Não serão positivas nas sua maioria. Há qualquer coisa aqui que me incomoda. E não é bom.