Wong Kar Wai faz uma vez mais aquilo que tão bem faz: pega em bocados de vidas, agarra numa canção (a magnifica ‘The Greatest’ de Cat Power) e filma tudo com aquelas cores e aquela câmara vagarosa que são sua imagem de marca. Desta vez o território geográfico são os Estados Unidos, um nada inocente trajecto Nova Iorque – Memphis – Las Vegas – Nova Iorque, mas o verdadeiro território onde o filme se passa é no universo de Wong Kar Wai, um universo de um romanismo exacerbado, de solidão e alguma alienação.
Desta vez não temos Maggie Cheung nem Tony Leung, mas temos um extraordinário elenco. Veja-se como os actores (os magnificos David Strathairn e Rachel Weisz) suportam o excessivo e carregado episódio de Memphis, em que um polícia alcoólico se recusa a aceitar que a mulher o deixou; e como na unica altura em que o filme parece perder um pouco o gás, no episódio de Las Vegas, da jogadora solitária, Natalie Portman o puxa de volta para cima. E como Norah Jones se dá tão bem com a camara.
E que dizer daquele final?
Pode-se argumentar que Kar-Wai anda a fazer mais do mesmo pelo menos desde 'Chungking Express', mas quando o ‘mais’ e o ‘mesmo’ são desta qualidade, quem se poderá queixar? A generalidade da crítica parece que já se cansou dele. Eu, pelo contrário, achei este filme a coisa mais próxima de uma obra-prima que vi estrear no grande écran nos últimos dois anos.
My Blueberry Nights, China/França/Hong-Kong, 2008. Realização: Wong Kar Wai. Com: Norah Jones, Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz, Natalie Portman, Chan Marshall.
Pode-se argumentar que Kar-Wai anda a fazer mais do mesmo pelo menos desde 'Chungking Express', mas quando o ‘mais’ e o ‘mesmo’ são desta qualidade, quem se poderá queixar? A generalidade da crítica parece que já se cansou dele. Eu, pelo contrário, achei este filme a coisa mais próxima de uma obra-prima que vi estrear no grande écran nos últimos dois anos.
My Blueberry Nights, China/França/Hong-Kong, 2008. Realização: Wong Kar Wai. Com: Norah Jones, Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz, Natalie Portman, Chan Marshall.
10 comments:
Não me parece que possamos dizer que o WKW anda a fazer mais do mesmo desde o Chungking Express, e quem o diz ou é por má fé ou porque não viu os filmes com atenção. Poder-se-ia dizer que há muitas semelhanças entre o trio da segunda metade dos anos 90 (o CH é de 94, mas finjamos), mas o Disponível para amar é já um filme muito diferente dos anteriores (o que mais se assemelharia, dos lançados até então, seria o Days of being wild), tal como 2046.
Ainda não vi este último.
E agora que penso nisto também não me parece que se possa dizer que o Happy Together seja mais do mesmo relativamente aos dois anteriores. Dizer que o WKW faz sempre mais do mesmo é a mesma coisa que dizer que o Almodóvar ou tantos outros fazem sempre mais do mesmo. Quando um tipo utiliza uma linguagem muito própria poderá dar essa ideia a uns quantos de nós, mas uma vez penetrando nos seus filmes apercebemo-nos com facilidade as nuances e a evolução dos seus trabalhos.
Sim, só concordo com essa ideia naquele sentido em que todos os grandes realizadores fazem sempre o mesmo filme.
volto a dizer, os grandes cineastas fazem sempre a mesma coisa e...sempre uma coisa completamente diferente.
Ainda bem que gostas-te, mais um..
Gostei deste texto. Tenho lido muitas críticas negativas ao filme e não percebo porquê.
Eu achei-o uma excelente peça de sétima arte.
Ainda não vi o filme, o que até eu mesma estranho. Wong Kar-Wai é Deus, ponto final.
Parece-me absurda a hipótese de ele andar a fazer mais do mesmo. No máximo, Wong Kar-Wai é obsessivo nos temas, algo que podemos dizer de quase todos os génios do cinema.
Fico muito aliviada por ler uma crítica favorável. Das críticas desfavoráveis ainda não li um único argumento bom, um único que me convencesse de que pode ser um filme menor. O génio de Wong Kar-Wai nunca o deixará fazer um filme mau, nisto estaremos todos de acordo, é inegável. Se é menor, não sei, mas a crítica parece apontar o dedo àquilo a que nada vejo de "apontável". Desconfio muito.
É bom ver que não alinhas com a carneirada (às vezes, a crítica dá sinais de o ser).
eh pá, excedi-me ali no "absurdo". desculpe, sim? :p
concordo ctg. é isso mesmo.
Vi-o ontem.
Confesso que esperava mais...
Também acho que "My blueberry nights" é mais um belo Kar-Wai. Gosto de todo o elenco, mas fiquei fascinado pela Rachel Weisz.
Abraço
A Rachel Weisz está deslumbrante... Ela e o David Strathairn fazem um par incrível.
Abraço.
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