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28.5.08

Westerns à Italiana

Este mês andei a ver Westerns Spaghetti, garantidamente um dos géneros mais menosprezados da história do cinema – além do mestre fundador Sergio Leone, quem conhece outro realizador do género? Mesmo em guias tipo o Rough Guide to Film, e outros, aparecem realizadores de géneros tão exóticos como os filmes de zombies eróticos (um Jean Rollin, por exemplo), mas jamais encontrei realizadores de westerns spaghetti, exceptuando Leone, cuja influência em muito extravasou o género (aliás a própria designação spaghetti é depreciativa; inicialmente houve quem os baptizasse de Horse Opera, mas não pegou!).

Mas há vida para além de Leone! Desde logo há o ‘outro Sergio’, Sergio Corbucci, que realizou os icónicos ‘O grande silêncio’ (que tem um dos finais mais tenebrosos para os "bons" que conheço) e ‘Django’ (onde Tarantino foi buscar a famosa cena da orelha cortada de ‘Cães danados’ e de que Takeshi Miike fez uma espécie de prequela japonesa!). Estes dois filmes, em traços largos, são descendentes directos de Leone e dos seus ‘heróis’ lacónicos e misteriosos. Mas houve variações.

Há mesmo quem considere que a decadência do género começou com os westerns ‘políticos’, passados durante a revolução Mexicana, mas eu confesso que dois dos meus exemplares preferidos se encaixam nesta categoria: ‘Companheiros' (com Franco Nero), de Corbucci e, acima de todos, uma pérola que cá se chamou ‘Mercenário’ (originalmente ‘El Chuncho, quien sabe?’ ou ‘A Bullet for the General’ – estes filmes, geralmente com castings internacionais, onde um Franco Nero coabitava com um Henry Fonda ou um Klaus Kinski, eram geralmente dobrados quer em inglês quer em italiano), de Damiano Damiani, com uma interpretação portentosa de Gian Maria Volonté.

“- São revolucionários ou bandidos?
– Há alguma diferença?
– Nenhuma”,

é um diálogo deste filme, entre um soldado mexicano e o impassível assassino americano El Nino (Lou Castel), que resume exemplarmente o cinismo destes ‘Westerns Zapata’, em que bandos de revolucionários/salteadores espalham o terror pela paisagem Mexicana (na realidade na paisagem espanhola de Almeria, onde a maior parte dos ‘spaghetti’ eram filmados – e aqui a paisagem e a banda sonora, principalmente quando do mestre Morricone, são tão importantes como as personagens ou o argumento - pelo que também não seria inapropriado chamar-lhes ‘westerns tortilla’, ou algo no género).

Na opinião de Leone, no entanto, o declínio veio com os westerns com veia cómica, notoriamente os protagonizados por Terence Hill (que na realidade se chamava Mario Girotti), o famoso Trinitá, e o ex-nadador olímpico Bud Spencer (Carlo Pedersoli), que eu me lembro de ver na minha adolescência e a que ainda não tive coragem de voltar. No intervalo de 10 anos a que se submeteu antes de conseguir filmar ‘Era uma vez na América’, Leone produziu (e realizou três cenas cruciais, embora nos créditos da realização apenas apareça Tonino Valerii) um filme em que reflectia sobre este subgénero: ‘O meu nome é ninguém’, em que Terence Hill, nem mais nem menos, se assume como 'assassino'/herdeiro do veterano Henry Fonda, representando este o fim de uma época. É ainda assim um filme bastante divertido, que pode ser visto como o enterro de um género que entre 1960 e 1975 nos deu quase 600 filmes.

Nota: Aqui pode-se ler uma boa introdução ao género.

O mercenário, Damiano Damiani, 1966 (8,5)
Django, Sergio Corbucci, 1966 (8)
O grande silêncio, Sergio Corbucci, 1968 (8)
Companheiros, Sergio Corbucci, 1970 (8)
O meu nome é ninguém, Tonino Valerii, 1973 (7,5)

8 comments:

coisoosos said...
This comment has been removed by the author.
coisoosos said...

Sem dúvida um dos meus géneros preferidos (o western no geral,mas principalmente os Spaghetti).

Desde pequeno que os filmes do Leone me acompanha e a trilogia dos dólares e o Aconteceu no Oeste são dois dos meus filmes preferidos.

Quanto ao "resto", existem filmes muito bons. É verdade que são quase sempre feitos com poucos recursos, mas estão cheios de estilo e personagens interessantes.

Dos que mencionaste, vi e tenho todos, dou especial destaque para O Grande Silêncio, de Corbucci.

http://highfidelity.blogs.sapo.pt/

rf. said...

Django é muito bom....
aquele começar com o caixão é genial.

Tradux said...

Django é muito bom mas o Corbucci de eleição para mim é o Il Grande Silencio, com um Klaus Kinski fenomenal.

Unknown said...

Fico contente por constatar que o Segio Corbucci tem mais fãs!

atomo! said...

Desde ja desculpem a falta de acentos no texto (teclado ingles):

Antonio Margheriti, Giulio Petroni, Tonino Valerii, Giorgio Stegani ou Gianfranco Parolini serao alguns dos nomes que estiveram ligados ao genero (ou sub genero) e que tem filmes interessantes.

Filmes como o fundamental El Topo ou as comedias do piolho do Bud Spencer tinham sido influenciadas pelo genero, e alguns desses filmes sao westerns essenciais de ver para os apreciadores da faccao Spaghetti

concordo com a afirmacao sobre o injustificado menospreso que o western Spaghetti foi sujeito, sobretudo porque e um dos generos 'historicos' que mais se debrucou sobre o realismo social e quotidiano de forma credivel (basta ver algumas das magnificas cenas de dia-a-dia dos filmes de Leone) e que teve uma influencia fundamental num certo cinema pos-anos 80, como a algum recente cinema independente espanhol, centrado no realizador Alex de la Iglesia, que vai fazendo mencoes pos modernas a alguns dos classicos. De resto o fraco 800 balas revive esse universo no proprio local onde foram filmados alguns classicos (em Almeria).

Pessoalmente, e embora tambem tenha uma opiniao algo negativa em relacao aos filmes da dupla Hill/Spencer, recomendo alguns desses como 'refinamentos barrocos' do Spaghetti, mais dentro do genero do que os proprios exemplos.


Abracos,

A!

Luis Faria said...

E nem uma palavra sobre "Aconteceu no Oeste" a obra prima unanime do Western Spaghetti!!! Terei visto mal?
Francamente Madox que desilusão :(

Unknown said...

A ideia do post era mostrar que nos spaghetti "há vida para além de Leone".

Abraço!