Recent Posts

27.10.08

W.



Como é que alguém que aos quarenta anos ainda era um estroina alcoólico, passado pouco tempo chega a homem mais poderoso do mundo?

Oliver Stone dá-nos o seu retrato de George W. Bush: um homem impulsivo, que demorou imenso tempo a assentar, que apesar de vir de uma família da ‘elite’ é essencialmente um homem do povo (‘tens um toque humano’, diz-lhe a mulher), que é pouco articulado a falar, tem pouca cultura, gosta é de basebol e cervejas; um homem perpetuamente angustiado pela desconfiança que o pai lhe vota, um pai que nunca acredita nele e prefere nitidamente o irmão Jeb, mais bem comportado e inteligente; mas também um ingénuo bem-intencionado, um cristão ‘renascido’, rodeado de falcões iluminados (Karl Rove, Dick Cheney, Donald Rumsfeld), que dão uma perigosa base teórica às suas intuições (o propagar da Democracia pelo Médio Oriente; uma politica musculada à Reagan; um certo desprezo por tudo que cheire a ‘esquerda’).

Stone é nitidamente das bandas do Partido Democrata, mas o seu retrato de Bush é bastante humano. Não obstante alguma ironia (notoriamente na duvidosa utilização recorrente da música ‘Robin Wood’..), o seu retratado mais do que diabolizado, é de certa forma objecto de compaixão: é o tal homem ingénuo (acreditava mesmo na existência de armas de destruição massiva), mal preparado, com a sombra do pai sempre a pairar sobre ele, com um certo misticismo cândido (acha que Deus quer que ele seja presidente). Mas não uma figura tenebrosa (como a maioria do seu séquito de maquiavélicos conselheiros, excepção feita ao sensato Colin Powell, que acabará no entanto por também ceder), nem sequer trágica.

Stone nem sempre escapa ao estilo telefilme, mas no global o esquema de alternar entre passado e presente, mostrando uns episódios e saltando outros (como a campanha para presidente) funciona bem, e consegue interessar-nos verdadeiramente por esta figura algo patética mas muito humana, evitando completamente o lado panfletário que eventualmente se poderia esperar dele.

Uma última palavra para os actores: Josh Brolin mimetiza na perfeição George W. Bush, Richard Dreyfuss está magnífico como o sinistro Dick Cheney e Toby Jones é o perfeito anão maligno Karl Rove.

W., E.U.A./Hong-Kong/Alemanha/Grã-Bretanha/Austrália, 2008. Realização: Oliver Stone. Com: Josh Brolin, Elizabeth Banks, Ioan Gruffudd, Thandie Newton, Rob Corddry, Scott Glenn, Ellen Burstyn, James Cromwell, Richard Dreyfuss, Toby Jones.

0 comments: