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12.12.08

Baile de Outono



Às tantas, durante ‘Baile de Outono’, uma mulher diz ao seu companheiro: ‘pareces uma personagem do Bergman’. Também poderia ter dito que ele parecia uma personagem de Antonioni. E ao espectador ocorre também Tarkovsky (pelo formalismo ‘poético’); ou Kaurismäki (pelo ambiente gélido); ou até o P.T.Anderson de ‘Magnolia’ (e não só pela estrutura do filme). E, numa das cenas iniciais, é-nos mostrado um poster de um filme de Cassavetes.

Inicialmente parece-nos que o filme não é mais do que isto: uma acumulação de referências, transferindo as angústias existenciais e a incomunicabilidade de Antonioni para os frios ambientes nórdicos (o filme passa-se nos arrabaldes de Tallin). Mas a realidade é que o realizador estónio vale mais do que isso, e o filme encontra um tom próprio, acabando as suas geométricas deambulações, entre ambientes elegantes e refinados e os feios subúrbios soviéticos, por nos agarrar algo hipnoticamente. Talvez sejam os esparsos toques de humor que surgem para lá do meio do filme, bem como uma espécie de happy end (para uma personagem!), que nos alertem para o facto de o realizador ter uma capacidade de nos manipular (no bom sentido) superior ao que estaríamos à espera. O seu nome não é fácil de fixar, mas vale a pena tentar: Veiko Õunpuu.

Sügisbal/Autumn Ball, Estónia, 2007. Realização: Veiko Õunpuu. Com: Rain Tolk, Taavi Eelmaa, Juhan Ulfsak, Sulevi Peltola, Tiina Tauraite, Maarja Jakobson.

2 comments:

Ricardo-eu said...

este é daqueles filmes que eu vi,mesmo tendo em conta a opinião da maioria da crítica nacional, que reprovava o filme pelo seu niilismo e incapacidade de sair da sombra das sua próprias referências, no entanto, vi o filme e apaixonei-me por aquela gente, embora admita que o filme se perca um pouco no não dizer nada, tenho que afirmar que cada momento é mais um paço para um êxtase inexistente e cada personagem afunda-se mais em si mesma. Claro, há que referir a componente arquitectónica do filme que é capaz de dar uma aura de depressão aos blocos de apartamentos do Regime soviético.
Um filme, que mais que tudo me surpreendeu e me deixou um gostinho amargo na boca, coisa que é sempre agradável.

Unknown said...

Eu gostei bastante do filme. Comeceu por o achar algo banal, mas depois acho que ganha força.