‘Frost/ Nixon’ é o típico filme de argumento e actores. O argumento é de Peter Morgan (o argumentista de ‘A Rainha’), baseado na sua peça homónima, sobre a célebre entrevista que o entertainer inglês David Frost fez ao deposto presidente Nixon, e em que este assumiu pela primeira vez a sua culpa no escândalo Watergate.
Talvez o argumento seja excessivamente didáctico, mas a sua reflexão sobre os media, mais concretamente a TV (mais do que uma vez mortífera para Nixon) é afiada e certeira, e, acima de tudo, o seu retrato dos dois oponentes, o algo leviano mas justo showman David Frost, que aposta o que tem e o que não tem, contra tudo e contra todos, numa entrevista política, completamente fora do seu âmbito, e o ainda manipulador, mas cansado, frustrado e desiludido Richard Nixon, para quem a entrevista funciona como uma espécie de catarse, é verosímil, judicioso e até tocante.
Claro que isto só é possível devido ao extraordinário duo de actores, Michael Sheen (o Tony Blair de ‘A Rainha’) e o veterano Frank Langella, duas escolhas pouco óbvias, mas que funcionam na perfeição.
Uma palavra para Ron Howard, que não é nenhum ás atrás da câmara - e por vezes não evita cair no tom telefilme - mas que no cômputo geral faz um bom trabalho, sóbrio e discreto, deixando brilhar quem de direito. Nota claramente positiva para esta sua obra, que é uma coisa rara hoje em dia em Hollywood: um filme que não é para teenagers.
Frost/Nixon, E.U.A./Grã-Bretanha/França, 2008. Realização: Ron Howard. Com: Frank Langella, Michael Sheen, Rebecca Hall, Toby Jones, Matthew Macfadyen, Kevin Bacon, Oliver Platt, Sam Rockwell.
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