Lia há dias na net alguém a defender que as histórias de ‘fantasmas’ dão melhores comédias que filmes de terror. A ser verdade (só se estiverem a falar do caça-fantasmas!), vi recentemente dois filmes que infirmam essa regra: ‘The Haunting’, obra-prima de Robert Wise, e este ‘The Innocents’.
'The Innocents' é uma adaptação do clássico de Henry James ‘The Turn of the Screw’, realizado pelo britânico Jack Clayton e com argumento de William Archibald e Truman Capote. Se Jack Clayton recria com mestria um ambiente gótico de fantasmagórico suspense que faz jus ao livro, já os argumentistas não resistiram a carregar freudianamente nas tintas do recalcamento sexual de Miss Giddens (uma surpreendente Deborah Kerr) - a ama que vê fantasmas - explicitando o que James deixou no ar. O muito politicamente incorrecto final do filme, não só faria corar o pudico escritor, como de certeza que seria impossível de 'passar' hoje em dia.
Seja como for, não é esta pequena ´traição' nada inocente dos argumentistas - e eu geralmente prefiro a sugestão à explicação - que diminui os méritos do filme. A elegante realização, a cuidada fotografia a preto e branco de Freddie Francis, o inteligente uso do som, as actuações imaculadas e, no geral, a fidelidade ao espírito de James (e por vezes a melhor maneira de elogiar uma obra é interpretá-la e não apenas ilustrá-la) tornam este filme uma das melhores adaptações do escritor anglo-americano ao grande ecrã e, já agora, um dos melhores filmes de 'terror' já feitos.
The Innocents, E.U.A., 1961. Realização: Jack Clayton. Com: Deborah Kerr, Peter Wyngarde, Megs Jenkins, Michael Redgrave, Martin Stephens, Pamela Franklin.
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