No papel, ‘Distrito 9’ tem tudo para ser um filme de que eu gostaria: uma colónia de extra-terrestres subnutridos, que chega numa nave espacial a Joanesburgo, é colocada num ‘campo de refugiados’ que rapidamente se transforma num ghetto, explorado por uma espécie de máfia local. Embora a alegoria com o Apartheid não seja muito subtil, os ingredientes até me fizeram lembrar uma boa sci-fi série B de outros tempos, com uns toques Carpentianos .
Mas, na prática, esta permissa é rapidamente esbanjada, e por muitos motivos. Desde logo já acho um bocado cansativo o tom de falso documentário que agora está na moda. Não digo que não confira um tom algo angustiante à fita, mas também reforça a sensação de déjà vu e, paradoxalmente, contribuiu para enfraquecer a minha ‘suspensão da descrença’.
Depois, nunca me identifiquei com o ‘herói’, um funcionário da Comissão para os Alienígenas, promovido pelo sogro a responsável pela relocação dos ‘gafanhotos’ (como os ETs são simpaticamente tratados pela população), que é um palerma completo durante meio filme, sendo depois difícil criar empatia com ele.
E, finalmente, o caminho que o argumento toma a partir do momento da transferência dos ditos gafanhotos - e nem falo dos mais que muitos buracos que apresenta; exemplo: porquê tanta obsessão com as armas dos alienígenas, que nem parecem especialmente destruidoras? Bom, a dita transferência, para um local fora da cidade, é conduzida por uma ‘corporation’ paramilitar que entra literalmente a matar e, enfim, penso que já estão a ver o filme... a parábola sobre o modo como o mundo ocidental trata os imigrantes passa agora a mais uma estafada crítica às multinacionais, ao capitalismo, ao militarismo, etc., etc. A partir daqui, confesso, desliguei.
Onde raio se meteu a sci-fi série B que me prometeram no início?
District 9, E.U.A./Nova Zelândia, 2008. Realização: Neill Blomkamp. Com: Sharlto Copley, Jason Cope, John Sumner, Vanessa Haywood, Marian Hooman, David James, Robert Hobbs.
2 comments:
Antes de mais, parabéns pelo blog.
Também tinha grandes expectativas para o filme, mas depois... Tem uma ou outra coisa que se aproveitam, os efeitos, e mesmo a parábola social, até certa medida. É um filme que se quer distanciar do "blockbuster" médio, mas que depois acaba por ser quase, ou mesmo, igual. Está a léguas largas de um "They Live", por exemplo.
É, nem é bom pensar o que o Carpenter não teria feito com este material.
E obrigado.
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