John Keats, um dos maiores poetas do Romantismo, morreu de tuberculose com apenas 25 anos, não tendo obtido em vida reconhecimento nem do público nem da crítica.
Jane Campion centra-se aqui nos três anos finais da sua vida, em que habitava em casa do seu amigo Charles Armitage Brown (de quem é dado um retrato impiedoso, não obstante ser dos raros contemporâneos a reconhecer o talento de Keats) e onde conheceu e se apaixonou por uma vizinha de 18 anos, Frances (Fanny) Brawne. Na verdade foi Fanny a primeira a apaixonar-se e é ela a verdadeira protagonista deste filme: apresentada de início como uma jovem despreocupada que só pensava em roupas e bailes, depressa a conheceremos como uma mulher viva, inteligente (nunca duvidou da qualidade da obra do seu amado, que leu e criticou com propósito) e determinada, que não hesitou em ignorar militantemente as convenções da época em nome do seu amor por Keats (que, não desmerecendo a imagem de bom poeta, não tinha um tostão furado e por isso dificilmente poderia casar com ela).
Ao deslocar o foco para esta paixão, Campion, mesmo sem atingir grandes arroubos, consegue contornar algumas das limitações habituais dos biopics (o didactismo, o tom televisivo) e dá-nos um retrato melancólico e de uma elegância inatacável de uma época, e da paixão de um homem e de uma mulher excepcionais. Grande mérito para este conseguimento têm os principais actores: Ben Whishaw compõe convictamente um Keats inteligente e divertido, apesar da doença e do temperamento, além de ter uma bela voz para declamar os seus (de Keats, bem entendido) poemas; e Abbie Cornish, Fanny, é a alma do filme, sacando um papelão. Das três estrelas em cinco que eu daria a 'Estrela cintilante' se aqui houvesse lugar a notas, uma seria inteirinha para ela.
Bright Star, Grã-Bretanha/Austrália/França, 2009. Realização: Jane Campion. Com: Abbie Cornish, Ben Whishaw, Paul Schneider, Kerry Fox, Edie Martin, Samuel Barnett, Antonia Campbell-Hughes.
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