Este vencedor da Palma de Ouro em Cannes e dos prémios Europeus de cinema, é mais uma radiografia pessimista do ser humano tirada pelo austríaco Michael Haneke (e parece-me importante referir a sua nacionalidade).
'O Laço Branco' é filmado num preto e branco que o próprio cineasta apelidou de 'realista', com actores desconhecidos e com uma austeridade e sobriedade verdadeiramente protestantes. Passa-se numa aldeola alemã, em vésperas da Primeira Grande Guerra, onde uma série de crimes (sobre crianças, mas não só) vêm perturbar a ordem estabelecida (a ordem do Barão, do Pastor, das entidades paternais em geral). E, claro, tem dado origem a toda a espécie de interpretações, desde logo que seria um filme sobre a génese do Nazismo (ou, mais genericamente, do mal).
Eu admiro o cineasta Haneke, maniacamente rigoroso, embora sempre distante, mas tenho alguns problemas com o argumentista Haneke (embora não contrarie, de forma alguma, o seu pessimismo arreigado). E são os mesmos problemas que tenho com Lars Von Trier: parece-me frequentemente que me estão a 'impingir' algo, uma qualquer lição de moral, que querem perturbar o 'burguês' que há no espectador (o problema está no 'impingir'). E parece-me, por vezes, que a 'forma', impecável no caso de Haneke, esconde alguma simplicidade do discurso. É uma sensação mais difusa no cineasta austríaco (que admiro, repito) que no dinamarquês (que abomino), mas ainda assim está lá (também me lembrei, já agora, de Shyamalan - 'A Vila', desde logo - que irrita muito boa gente, mas não a mim, curiosamente).
Seja como for, não faz parte daquela maioria de filmes que entram a cem e saem a duzentos - é um filme que perturba, que fica - e por isso entrará obrigatoriamente nas contas do final do ano.
Das Weisse Band - Eine Deutsche Kindergeschichte, Áustria/Alemanha/França/Itália, 2009. Realização: Michael Haneke. Com: Christian Friedel, Ernst Jacobi, Leonie Benesch, Ulrich Tukur, Fion Mutert, Burghart Klaussner, Maria-Victoria Dragus, Josef Bierbichler, Susanne Lothar, Roxanne Duran, Miljan Chatelain, Eddy Grahl.
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