'Estado de guerra' começa com uma cena muito boa, plena de tensão angustiante, que o resto do filme não desmerece. Exceptuando uma única cena escusada - a da morte do médico 'ingénuo' - por demais previsível e explicativa - deixa a acção falar por si, dando-nos um excelente retrato da guerra. A imagem recorrente dos soldados americanos sobre enorme tensão, a terem de tomar decisões em segundos, enquanto são observados por rostos locais mudos e impassíveis é das mais emblemáticas que me lembro de entre os filmes sobre o Iraque. Aliás, este é o melhor filme sobre a actual guerra no local (tem havido bons filmes sobre o regresso dos soldados - 'No vale de Elah', por exemplo) - também porque é, coisa que nem sempre tem sido salientada, um muito bom filme de acção.
'The Hurt Locker' centra-se no Sargento William James, Will (excelente Jeremy Renner), um desadaptado (um viciado em adrenalina, chama-lhe um colega), que prefere a guerra à família. Não a 'defesa da pátria' ou algo no género, entenda-se, mas a emoção de desarmadilhar bombas no terreno à tranquilidade da vidinha com a mulher e o filho na terra. Repare-se que isto não nos é mostrado glorificando o campo de batalha, a la Rambo. Isto é-nos mostrado enquanto também nos é mostrada a dureza da guerra e percebemos que para a maioria do contingente é um sítio insuportável donde se quer pôr a andar o mais depressa possível (veja-se a cena da espera interminável dos soldados numa posição no deserto, enquanto não têm a certeza de que o campo está totalmente livre de inimigos). Will não é uma personagem de computador, é uma pessoa que põe constantemente a vida em risco, e sentimos que anda a abusar demais da sorte. Dar-nos a compreender Will- e personagem mais politicamente incorrecta no actual cinema americano é difícil - é o derradeiro trunfo deste filme.
The Hurt Locker, E.U.A., 2008. Realização: Kathryn Bigelow. Com: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Christian Camargo.
2 comments:
Na minha interpretação do filme, Will é a personificação da America. Não pode estar em paz e precisa sempre de mais uma guerra.
É bem visto.
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