Luca Guadagnino filma uma endinheirada família milanesa na altura em que se começam a abrir brechas na implacável fachada construída pelo patriarca que está a morrer. 'São precisos dois homens para me substituir', diz ele ao passar o testemunho a filho e neto. Mas nada será mais como era.
O despertar da nora, uma esfíngica e enigmática Tilda Swinton, que passa todo o filme como que hipnotizada, até se apaixonar por um cozinheiro da idade do filho, é o maior dos tremores que abalarão esta família duma aristocracia démodée.
Guadagnino filma em tom operático, opulento, estilizado, este melodrama com ares viscontianos. A impressiva banda sonora de John Adams, as repetições das falas, a câmara em travellings altivos, a fotografia de Yorick Le Saux que foi beber aos museus de arte antiga, também hipnotizam o espectador, à maneira da sua protagonista. Este por vezes até pode cabecear, mas não pode negar o savoir-faire do empreendimento (pormenor: note-se o contraste das cenas filmadas no campo - o cenário dos encontros sexuais - a fazer lembrar a 'Lady Chatterley' de Pascal Ferran).
Não me parece caso para gritar obra-prima - mas é certamente um filme distinto e que merece ser salientado no deserto que tem sido este ano cinematográfico.
Io Sono L`Amore, Itália, 2009. Realização: Luca Guadagnino. Com: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini, Alba Rohrwacher, Pippo Delbono, Diane Fleri, Marisa Berenson.
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