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3.5.10

Greenberg


É bom habitar no universo do cinema independente americano. Qualquer deprimido, a braços com um desgosto amoroso, uma deriva emocional, ou a passar por uma qualquer crise, tem um remédio santo para a maleita: mete-se num avião e vai passar uma temporada à terra natal. Aí, é certo e sabido, encontra uma loirinha gira, compreensiva e terna, que fará tudo para lhe consolar as mágoas. Quanto mais alto ele gritar que só quer estar sozinho, mais carinhosamente ela o tomará nos seus braços. Resumindo, o homem ultrapassa a crise e encontra a mulher da sua vida.

Com mais variação, menos variação, este argumento já foi tantas vezes à tela que merece ser considerado um subgénero próprio do cinema indie dos States. Algo como os "filmes da loirinha redentora".

Aqui o deprimido é um Ben Stiller neurótico, à Woody Allen, a passar por uma crise dos 40 especialmente aguda e a loirinha de serviço (Greta Gerwig) é a empregada do seu irmão de sucesso, que lhe emprestou a casa de LA, onde Stiller/Greenberg regressa ao fim de largos anos em NY, reencontrando os amigos de juventude.

Como seria de esperar de um argumento de Noah Baumbach (escrito em pareceria com a sua mulher Jennifer Jason Leigh) os diálogos são inteligentes e tem uma mão cheia de boas deixas (como a melancólica "a juventude é um desperdício nos jovens") mas, por vezes - como nas cartas de reclamação que Greenberg escreve obsessivamente - nota-se demasiadamente a mão do argumentista. De resto, os actores cumprem na perfeição, e o tom geral é de elegante savoir faire.

Mas, lá está, no final não podemos deixar de sentir que é mais do mesmo - os tais filmes da loirinha redentora. Não são só os blockbusters que às tantas parecem todos iguais...

Greenberg, E.U.A., 2010. Realização: Noah Baumbach. Com: Ben Stiller, Greta Gerwig, Jennifer Jason Leigh, Rhys Ifans, Juno Temple, Dave Franco, Chris Messina.

10 comments:

Ana said...

Bem apanhado!

De qualquer forma, tenho pena que a minha terra-natal seja a mesma onde vivo...

Unknown said...

Não há problema. Na vida real as coisas não funcionam assim ;)

Ana said...

Pois, já tinha percebido que os finais felizes não são a regra.

Unknown said...

:)

rf. said...

mais um para vaga de blockbusters indie que parecem profilerar mais do que os da loirinha redentora?

Unknown said...

He pá, o filme até é bom, mas já não há paciência...

Anonymous said...

viu onde? No cine mesmo?

Unknown said...

Sim, numa sala de cinema.

rf. said...

afinal, ainda me consegui surpreender com o filme. sem ser extraordinário, tem momentos muito bons. de facto, as 'deixas' cumprem um papel fundamental neste tipo de filme, neste em particular, e vão dar uns excelentes posts...

Unknown said...

Sim, o Baumbach é o Baumbach, um bom argumentista, não obstante.