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22.9.10

The Killer Inside Me


'The Killer Inside Me' provocou polémica na última Berlinale devido às cenas de violência que contém. E a ausência das suas principais estrelas (Casey Affleck, Jessica Alba e Kate Hudson) para o apresentar, supostamente por estarem desagradadas com essas tais cenas, apenas deitou mais gasolina na fogueira.

Parece absurdo num mundo repleto de (imagens de) violência ainda alguém se chocar com um filme, e de facto não penso que este seja mais violento do que muita coisa que para aí anda. Talvez o choque causado provenha do facto de a violência mais gráfica do filme ser exercida sobre mulheres e num filme que não é propriamente um slasher movie.

'The Killer Inside Me' é baseado num romance do argumentista (de Kubrick, por exemplo) e autor de pulp fiction Jim Thompson (que Stephen Frears também levou à tela no magnífico ‘The Grifters’), e segue o trajecto alucinado de Lou Ford (excelente Casey Affleck), aparentemente um pacato agente da lei, mas na verdade um psicopata com traumas de infância.

O filme pode ser descrito como uma espécie de cruzamento entre ‘Este país não é para velhos’ e ‘9 canções’ (substituindo o sexo explicito por violência explicita). Filma bem a América profunda dos anos 50 (bela fotografia límpida de Marcel Zyskind), com a sua violência por trás da aparente normalidade, que vai alternando com flash backs etéreos saídos das recordações de Affleck, tudo em tons estilizados.

Quanto a mim, no entanto, o filme padece de dois defeitos: a banda sonora musical é omnipresente, e se funciona bem em meia dúzia de cenas, é no geral demasiado intrusiva, ocupa ‘espaço’ de mais (sem ter a óbvia função que tinha em ‘9 canções’). E o argumento parece que está cheio de buracos. Certamente que adaptar pulp fiction é sempre complicado, e não são poucos os argumentos deste género que são pouco mais do que ininteligíveis, mas neste caso parece que houve a preocupação de escrever um argumento ‘direitinho’ - mas de que depois na hora de filmar se perderam algumas páginas.

Estes dois pecados, a que podemos acrescentar um lamento por realização e montagem não serem um pouco mais secas (a cena final, por exemplo, merecia um realizador muito mais discreto), impedem que o filme seja o que a espaços mostra que poderia ser: se não uma obra-prima, um modern classic como ‘Este país não é para velhos’.

Ainda assim proporciona-nos um elenco de luxo, incluindo um actor raro -  Casey Affleck - e é mais arriscado e tem mais cinema do que praticamente tudo o que está em exibição nas salas portuguesas. Merecia que fosse por cá estreado.

The Killer Inside Me, E.U.A., Suécia, Reino Unido, Canada, 2010. Realização: Michael Winterbottom. Com: Casey Affleck, Kate Hudson, Jessica Alba, Ned Beatty, Tom Bower, Elias Koteas, Simon Baker, Bill Pullman, Brent Briscoe.

6 comments:

Anonymous said...

Em um nível de 1 a 10 em violência, como você classificaria as sequências de Killer Inside Me?

Unknown said...

Bom, isso é bastante subjectivo. Não há cenas de tirar olhos a alguém, ou algo no género.
Mas há 2 espancamentos a mulheres que são verdadeiramente violentos e podem impressionar o espectador.

Leandro Caraça said...

Mais violentos do que qualquer coisa que Tarantino e similares tanham filmado na vida.

Unknown said...

É, penso que o facto desta violência ser exercida sobre mulheres (e de forma totalmente gratuita) a torna particularmente incómoda. As mesmas cenas com 2 homens não teriam esta carga, seriam até 'banais'.

Mc Ako said...

o jim thompson não é a jane austen.

Unknown said...

he, he. pois não...