'Meu filho, olha o que fizeste!' (que na ‘tradução’ portuguesa parece o titulo de uma comédia foleira) foi o segundo filme de Werner Herzog a estrear nas salas portuguesas este ano, depois de ‘O polícia sem lei’ (são ambos de 2009). Embora nem sempre estreiem por cá, entre documentários e obras de ficção (e o alemão é um dos realizadores em que estes dois géneros mais se interligam e comunicam) Herzog mantém um ritmo imbatível de praticamente um ou dois filmes por ano há quase 4 décadas.
Ao contrário de ‘Polícia sem lei’, este filme (tal como ‘Rescue Dawn’ há uns anos) passou por cá praticamente despercebido. Numa das raras coisas que me lembro de ler sobre ele, dizia-se que seria uma espécie de Lynch em segunda mão (provavelmente por David Lynch ser produtor do filme e por haver uma cena com um anão). Mas não é. 'Meu filho, olha o que fizeste!' é Herzog até à medula.
Os planos são de Herzog; a utilização da banda sonora é de Herzog (atente-se numas cenas em que as imagens se suspendem, dando o primeiro plano à banda sonora – uma canção de Chavela Vargas, por exemplo – que parecem directamente saídas de um ‘Fata Morgana’); e, claro, Brad McCullum (Michael Shannon), o lunático possuído por uma ‘voz interior’, faz parte de uma longa galeria herzoguiana que inclui Aguirre, Fitzcarraldo, Cobra Verde ou Timothy Treadwell.
É certo que Michael Shannon, apesar de excelente actor e ter certa tendência para personagens alucinadas (lembremo-nos de 'Bug', por exemplo), não é Klaus Kinski (Christian Bale, outro grande actor, também se ressentia desse fantasma), e falta à sua personagem aquele tom épico de louco visionário que Kinski tinha nos genes – talvez, também, por haver um excessivo enfase ‘freudiano’ no facto de a sua progressiva loucura emergir da possessiva relação que tem com a mãe, e que o leva a viver intensamente as tragédias gregas, nomeadamente a 'Oresteia'.
Mas, ainda assim, mesmo que o filme possa ser acusado de ser uma variação em tom menor dos grandes Herzogs (e todos os grandes realizadores - pelo menos em vida - acabam por ser acusados de andarem sempre a fazer o mesmo), aquele fascínio que quase todos os filmes do realizador alemão – um dos grandes realizadores em actividade, insistamos– nos incutem, está sem dúvida presente. O que por si só é mais do que suficiente para incluir ‘Meu filho, olha o que fizeste!‘ entre as mais interessantes estreias do ano.
My Son, My Son, What Have Ye Done, E.U.A./Alemanha, 2009. Realização: Werner Herzog. Com: Willem Dafoe, Chloe Sevigny, Michael Shannon, Brad Dourif, Anthony Mackie, Michael Peña.
My Son, My Son, What Have Ye Done, E.U.A./Alemanha, 2009. Realização: Werner Herzog. Com: Willem Dafoe, Chloe Sevigny, Michael Shannon, Brad Dourif, Anthony Mackie, Michael Peña.
3 comments:
Olá
visita
http://febre7arte.blogspot.com/
Abç
antes que o diabo saiba que morreste e histórias da caçadeira. o michael shannon é o bom actor da moda.
é verdade que está um bocado na moda. mas o gajo é bom.
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