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10.11.10

A rede social


Diga-se desde já que a 'A rede social' é uma competente, bem filmada e melhor interpretada biografia de Mark Zuckerberg (o - será preciso dize-lo? - quase-adolescente criador do Facebook).

Ao contrário das biografias escritas, com nobre tradição no mundo anglo-saxónico, os biopic fazem qualquer cinéfilo torcer o nariz de desconfiança. Mas neste caso havia à partida dois chamarizes: Fincher (não que eu seja um big fan, mas a verdade é que nunca fez um mau filme) e, claro, para os milhões de utilizadores do Facebook, potencial matéria-prima inflamável. Especificando: aquela explosiva combinação tipicamente americana do nerd que se revela também um ás imparável dos negócios -  capaz de se rodear dos melhores (cf. Sean Parker, o inventor do Napster, outro pequeno génio a que faltou de todo o quase ascetismo de Zuckerberg para ter o sucesso deste, mas que lhe deu uma valente ajuda - não por acaso é a única pessoa que vemos Mark admirar), mas também de se livrar sem escrúpulos de quem já não faz falta (cf. Eduardo Saverin, o brasileiro que entrou com o capital inicial mas que faz figura de corno o tempo todo na fita; ou, fica nas entrelinhas, o próprio Sean quando se torna um embaraço).

A cena inicial de 'A rede social' limitou, no entanto, desde o principio, a minha adesão ao filme.  É que resume desde logo o programa do que vamos ver, numa única conversa: o nerd-géniozinho-que-vai-inventar-a-rede-social-de-maior-sucesso-porque-tem-dificuldade-em-socializar-e-alguns-complexos-de-classe. Não era necessário munirem-nos logo ali com a chave freudiana adequada para descodificar a coisa. E a última cena do filme volta a bater no ceguinho do simbolismo berrante.

Mas reconheço que a adesão a qualquer biografia também passa em boa dose pelo nosso interesse no biografado, e uma pessoa que nem conta tem no Facebook, como eu, não será a que se sentirá mais fascinada por Mr.Zuckerberg. Perguntar-me-ão: mas o filme não é mais do que isso? Não transcende a tal biografia competente de Zuckerberg? Não me parece. Não estamos perante um novo Citizen Kane. Nem nada que se pareça.

The Social Network, E.U.A., 2010. Realização: David Fincher. Com: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Joseph Mazzello, Armie Hammer, Max Minghella, Rooney Mara, Brenda Song.

8 comments:

Álvaro Martins said...

Olha, já somos dois sem conta na dita cuja rede social :) ainda não vi o filme, mas não o farei tão cedo porque não tenho nem expectativas nem curiosidade em ver isto.

Unknown said...

Como disse, não sou um indefectível do Fincher, mas geralmente não dou o tempo mal entregue a ver os seus filmes. Mas este é apenas competente.

Ana said...

Continuo na dúvida, embora as 5 estrelas do João Lopes me tenham deixado bastante curiosa.

Álvaro Martins said...

Não digo isso, mas ultimamente Fincher tem deixado bastante a desejar (isto é, naquilo que eu procuro em cinema, naquilo que Fincher nos apresentou com o Seven, Fight Club, The Game e o terceiro Alien, contrastando com o que apresenta agora). Mas é um dos melhores cineastas norte-americanos do circuito mainstream de hollywood, isso é inegável.

Unknown said...

Ana, O João Lopes é fã do Fincher... se bem me lembro, deu 5 estrelas a todos os seus filmes. O JL é fiel à teoria dos autores.

Alvaro, em traços largos é isso. Dos que se movem no "mainstream de Hollywood" é dos melhores.

pseudo-autor said...

Estou na expectativa desse novo do Fincher. Espero que volte às boas com a carreira dele, pois o último (Benjamim Button) achei excessivamente longo e monótono.

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Ricardo Gross said...

«Citizen Kane», meu caro.

Unknown said...

Fonex, que calinada. Obrigado. Foi o Orson Welles que me lançou uma maldição do além por invocar a sua obra em vão.