Foi o próprio Woody Allen quem disse, numa entrevista, que em 1975 resolveu "acabar com as palhaçadas" (leia-se o período que vai de 'O inimigo público' a 'Nem guerra nem paz') e dar "um primeiro passo rumo à maturidade" (leia-se começar a escrever 'Annie Hall'). E, de facto, há na sua obra um antes e depois de 'Annie Hall' (lançado em 1977). Mas, na minha opinião, há um elo perdido entre estas duas 'fases': 'Play it Again, Sam' (de 1972, o mesmo ano de 'O ABC do amor'), interpretado e adaptado pelo próprio Woody da sua peça homónima (onde conheceu Diane Keaton), mas realizado por Herbert Ross.
'Play it Again, Sam' (penso que por cá se chamou 'O grande conquistador'...) é um filme muito, muito divertido, quer ao nível do argumento (Allen era já imbatível a escrever piadas memoráveis - e a cena recorrente do workaholic que, numa época pré-telemóveis, telefona para o escritório donde quer que esteja a dar o número de telefone desse local, é brilhante), quer da interpretação de Allen (que teria sido um grande actor do mudo) no papel de um desastrado crítico de cinema, que tem conversas imaginárias com Humprey Bogart sobre como conquistar uma mulher, agora que a sua o deixou (e o filme está sempre a citar 'Casablanca'). Mas tem também muitas marcas do que virá a ser a sua obra futura, sobre pessoas inseguras, que não sabem qual o melhor caminho para a sua vida, com aquele toque de angústia existencial que nunca mais deixámos de associar a Allen.
Como disse, o filme não foi realizado por Allen mas, sem desmerecer Herbert Ross, é como se fosse. E eu, não hesito em colocá-lo entre os seus melhores.
Play it Again, Sam, E.U.A., 1972. Realização: Herbert Ross. Com: Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Jerry Lacy.
4 comments:
Concordo, um bom filme de Woody Allen que é frequentemente esquecido por não ter sido realizado por ele ou por ser adaptado duma peça de teatro, seja como for, é um proto-Annie Hall e gosto muito.
Raramente é citado entre os Allens favoritos de alguém, não é?
a ver.
Ponho as mãos no fogo por ele.
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