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15.12.11

Drive - Duplo risco


O júri de Cannes 2011 (presidido por Robert De Niro) que deu a Palma de Ouro a 'A árvore da vida' de Terence Malick, deu o prémio de realização a Nicolas Winding Refn por este 'Drive'. Quase todas as pessoas de bom gosto que eu conheço gostaram muito do primeiro e não gostaram nada do segundo. Pois comigo sucedeu precisamente o contrário.

Dou desde já de barato que o lado 'videoclip' do filme pode irritar muito boa gente, mas se há um ou outro momento mais exibicionista (nomeadamente na banda sonora), a aposta é ganha, pois o estilo é aqui o que mais conta. Não se chega ao extremo de um Gaspar Noe em 'Enter the Void', mas percebem a ideia. Aliás há uma data de outros realizadores de que me fui lembrando ao longo da fita: Tarantino (na cena do abalroamento do carro de Nino), os irmãos Cohen (na conversa entre Nino e Bernie na pizzaria) e até Guy Ritchie, no final (eu não disse que o filme é perfeito). Mas Refn embrulha todas estas referências e dá-nos algo que bate. É estranho mas bate.

E os actores, é impossível falar deste filme sem falar na sua dupla de protagonistas: confesso que estranhei durante um bom bocado o lacónico driver de Ryan Gosling, algures entre Steve McQueen e Alain Delon, mas o certo é que acabou por se entranhar (e certamente aquele sorriso melancólico apelará mais ao sexo feminino). E para Carey Mulligan não tenho adjectivos suficientes: não tendo mais do que meia dúzia de deixas em todo o filme, a sua beleza tranquila contribui tanto como a câmara ensonada de Refn e a banda sonora retro de Cliff Martinez para o peculiar ambiente do filme.

E mesmo não tendo Refn a subtileza de Michael Man, desde 'Miami Vice' que eu não via um filme que combinasse tão bem acção (não muita, mas ainda assim com dois pontos altos, uma bela perseguição de carros e um assassinato de uma violência inaudita) com romantismo (é muito bonita a relação do par).

Volto atrás. 'Drive' não é um filme que pretenda transmitir-nos qualquer lição filosófica (ao contrário de 'A árvore da vida', as pretensões aqui estão todas no estilo) e percebo perfeitamente quem não goste dele - bem visto, muito do que eu aqui disse poderia servir para fundamentar uma opinião negativa -  mas a verdade, verdadinha é que só aqui e em 'O Cisne Negro' eu senti algo a mexer comigo este ano nas salas de cinema.

Drive, E.U.A., 2011. Realização: Nicolas Winding Refn. Com: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Oscar Isaac, Christina Hendricks, Ron Perlman.

13 comments:

Ana said...

Começava a achar que tinha sido só eu que tinha gostado do filme! E incomparavelmente mais do que do Malick.
E confirmo que aquela pose do Gosling é muito apelativa para o sexo feminino :-)

Unknown said...

Já somos dois, já somos dois. E bem me parecia ;)

de Pina said...

Vi A árvore da vida e Drive. Gostei bastante da realização de Drive, de um certo estilo retro (desde a banda sonora às roupas do driver) e da capacidade que tem de mexer com quem o vê. Em termos de conteúdo acho A árvore da vida muito superior. São dois filmes diferentes e com pretensões diferentes...

Unknown said...

Só comparei os 2 por terem sido premiados pelo mesmo juri. Achei curioso.

Luis Faria said...

Drive é um filme "interessante" com uma narrativa mais ou menos linear bastante mais fácil do que A Árvore da Vida que exige um grande esforço por parte do espectador talvez por ser mais hermético mais ziguezagueante, fascinante mas aborrecido. Mas são ambos juntamente com O Cisne Negro do que melhor apareceu este ano nas nossas salas de cinema sem dúvida.

Lia Ferreira said...

Olá Madox!
Eu não vi a Árvore da Vida (ainda não consegui desactivar o alarme que se me disparou perante o tema) e vi o Cisne Negro mas não gostei.

Quanto ao Drive devo dizer que me diverti muitíssimo e só acho que pecou pelo final.

Não estava a acreditar nas letras a la footloose nem nos planos teledisco/herói dos anos 80 sobre o Gosling! Levei a coisa para uma opção de estilo com ironia mas imagino que haja a encare de outra maneira.
Os Zoom in e Zoom out sobre o gingar de ancas do rapaz, o blusão... a criança adormecida no colo... enfim... (também me fez lembrar o Top Gun e os planos em slow motion do outro com a farda de piloto)... fartei-me de rir mas apreciei! :)

O Gosling alterna entre o totalmente inexpressivo - "eu sou um duro" - e o "digo tudo com os olhos" onde, com o olhar, passa todo o naipe de sentimentos...

Não fiquei muito convencida com a capacidade do homem para matar aquela gente toda (lembremo-nos do Rambo, por exemplo...), não me pareceu muito credível nem mesmo para esbofetear a ruiva... mas para fazer uma mulher feliz acho que sim! :)

Depois, o que não consegui mesmo engolir (eu que estava a delirar com as opções estéticas todas, banda sonora incluída) foi o arranque daquela música com a morte do dono da oficina... mas quando o vi sair de máscara em riste pensei: "Alto! A coisa ainda se resolve e a música ainda vai ficar justificada por um final apoteótico, um hiper-mega-clímax da acção!.." ... mas não! :|
O final não foi mais grandioso que o resto do filme e não houve um crescendo vertiginoso que justificasse o raio da música ou desse um final digno à deambulação do herói... acho eu!

Agora... a certa altura pareceu-me ser um filme de gajas e não de gajos (as cenas de carros são espectaulares, não obstante! Adorei a primeira e a maneira como ele sai limpinho de cena...:)! Quer dizer, aquilo é um altar ao Gosling!... é dado de bandeja!... a dado momento pareceu-me tudo tão pro-bonzão que me começou a vir à cabeça o Rock Hudson e comecei a desconfiar... (quando cheguei a casa fui googlar e vi que o rapaz agora anda com a Eva Mendes... ok)
Ainda por cima as mulheres são muito "secundárias" no filme. Até mesmo a querida co-protagonista, cuja sensualidade (sexualidade) não é minimamente explorada. Parece-me bem, para variar um bocadinho e fugir do estereótipo!

E é isto. Ainda não fiz o Top Ten, mas talvez lá entre... :)

Saudações!

Lia Ferreira said...

Ali em cima era "...que que haja QUEM a encare de outra maneira."

Unknown said...

Com a Eva Mendes? Possa.

Eu se não tivesse visto o Half Nelson ficava convencido que o gajo é um canastrão, mas como vi, tenho que concluir que a sua inexpressividade neste papel é propositada.

De resto, não obstante ter gostado muito, é um filme que tenho dificuldade em defender: concordo com tudo de mal que as pessoas dizem dele. Mas pegar no footloose e no top gun também é um bocado de mais, caramba!

Lia Ferreira said...

Ahahah! Não é nada!! E a luz e tudo!... Vai lá rever o Top Gun e o outro... :)

Mas eu gostei!! (Expliquei-me bem?) Só o fim é que me decepcionou... (bem, enfim, não foi o melhor que vi, mas o saldo é positivo)

De resto o tipo andou também com a loira do último do Woody Allen (a noiva).

Ah, e achei o casting bom. Gostei muito do marido e do puto, dela e dos bandidos.

Depois disso, à noite, fui ver o Melancholia... ihihih!

Unknown said...

E que tal o melancólico? Eu não vi e não gostei!

Lia Ferreira said...

Ahahahah!

Antes de ir arranjei-o.. ehem... de forma um pouco mais..hum... ilícita... e para ver se o ficheiro estava bom (e estava) saltei com o cursor pela timeline.
Depois não resisti e vi o fim. E ía morrendo de susto porque tinha uma ideia dos primeiros traillers que nada tinha a ver com o fim do mundo iminente!
Pensei que era só a história de uma rapariga melancólica ou passada ou deprimida. Então decidi não ver no cinema porque achei que não ia aguentar... ainda p'ra mais com a angústia de mães e crianças pelo meio (hoje em dia não consigo suportar... coisas da maternidade...)...

Mas depois digeri a coisa e como gostava de o ver no cinema e me pelei pela estética... fui!

Fui mas já tinha o botãozinho da emoção desligado e portanto não me custou.

A primeira parte, que correspondia mesmo ao que tinha imaginado da primeira vez, era interessante até certo ponto. Depois fartei-me.

A segunda tinha mais a ver com a tal angústia do fim do mundo e gostei mais.

Achei interessante que a coisa tivesse sido sempre abordada do ponto de vista pessoal, relativo a cada personagem e respectivo drama psicológico, e nunca no contexto da multidão em pânico, como nos filmes apocalíticos que se passam nas grandes cidades (como o 2012, julgo eu).

Gostei da inversão de papéis (ou comportamentos) das personagens.
E que as mulheres tenham um papel preponderante na acção, na vida, ainda que sejam elas as que mais sujeitas estão às desgraças e ao sofrimento - facto que se repete nos filmes do LVT mas também na vida real... mas isso sou eu que tenho sempre isso presente...
:)

A Dunst e a Gainsbourg muito bem, o Sutherland e os outros cujos nomes não sei também.

A fotografia belíssima...

Seria angustiante se eu não tivesse já espreitado e digerido aquilo. E, se se procura esse efeito no visionamento de um filme ou de outro objecto artístico, então: bom!...

No geral, gostei.
:)

Notícias e Opinião said...

Sou das que gostaram muito da Árvore da Vida. Tanto da fotografia excelente e tão minuciosamente cuidada, como da mensagem filosófica transmitida por tão belas metáforas. Um filme para sentir primeiro e pensar depois...

Não tinha visto o "Drive" e ontem, após ter aqui lido a sua crítica, fiquei curiosa e vi-o em HD.
Gostei muito. É um óptimo filme e não compreendo porque motivo ou se gosta de um ou de outro. Há que manter uma mente aberta, acho. São ambos muito bons, mas acho difícil compará-los. Nem pretendo sequer tentar. Sou daquelas que tanto gosta de Bach e Beethoven como de Jazz, alternativa, drum'Bass, Trance, etc. Sempre pensei que assumir um estilo artístico seria uma auto-castração. Em todos os géneros existe a excelência e a mediocridade...menos na cultura pop/pimba. Confesso que aí ainda não encontrei nada.

Quero agradecer-lhe pela boa sessão de cinema que me proporcionou e dar-lhe os parabéns pelo excelente blogue.

C. Vantacich

Unknown said...

Obrigado, C. Vantacich.