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15.10.04

A vida é um milagre



Emir Kusturika criou, com meia dúzia de filmes, um dos universos mais pessoais e identificáveis do actual panorama cinematográfico. Ninguém se admire que daqui a uns tempos se use o epíteto Kusturikiano, como hoje usamos Felliniano, por exemplo. Mas esta forte marca autoral tem um risco: o de o realizador se começar a repetir, a usar sempre a mesma 'fórmula'. E, se Kusturica escapava a esta armadilha em 'Gato branco, gato preto', que apesar de não trazer nada de novo, era tão perfeito que funcionava como uma espécie de 'best of' da sua obra, neste seu último filme o efeito de 'déja vu' sobrepôe-se a tudo o resto. Para isso contribui a fragilidade do argumento, espécie de Romeu e Julieta nas Balcãs, o que o torna o seu filme mais fraco atá à data (o seu único filme fraco até à data, pode-se dizer). Bloqueio criativo temporário? A ver no próximo filme.

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