O dicionário inglês-português diz-nos que Tarnation é o equivalente em calão americano a damned. Esta palavra conhecemos, mas vale a pena ver a primeira tradução que o dicionário nos dá para ela: 'votado às penas eternas'. De facto não haveria melhor titulo para este auto-retrato de Jonathan Caouette: com 2 ou 3 anos foi adoptado por uma família que o espancava regularmente, aos 4 anos assistiu à violação da mãe por um desconhecido que lhes deu boleia, aos 11 realizava os seus próprios home movies , filmando-se a si próprio vestido de drag queen a queixar-se da violência dum suposto marido, aos 13 disfarçava-se de 'miúda gótica' para entrar em bares gay para maiores de 18, etc., etc. Enquanto isto ia convivendo com as perturbações mentais da Mãe (que adorava), sempre a entrar e a sair de Hospitais psiquiátricos onde recebia tratamentos à base de choques eléctricos que a desequilibraram para sempre...não espanta que o realizador tenha achado que a sua vida dava um filme!
No modo como este filme foi feito reside a sua maior originalidade, que lhe trouxe um assinalável reconhecimento. Desde tenra idade que Jonathan Caouette se filmava a si próprio e à família com uma câmara super 8 oferecida pelos avós - pegou então em todo este material (mais de 160 horas!), juntou-lhe fotografias, gravações do atendedor de chamadas, filmes caseiros, etc., misturou tudo no computador com um programa iMovie e colou-lhe umas legendas e uma banda sonora imaculada. O resultado é uma espécie de cruzamento entre 'Capturing the Friedmans ' e um filme underground gay, sendo por vezes comovente, por vezes alucinado, sempre narcisista, frequentemente chato, não raras vezes irritante. Ah! - e tudo isto feito com 200 dólares!
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