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14.12.05

Broken Flowers — Flores Partidas



Depois de Wes Anderson e Sofia Coppola, chegou a vez de Jim Jarmusch convocar o minimalismo de Bill Murray para o seu universo peculiar. 'Murray faz-me lembrar Buster Keaton', sintetizou Jarmusch.
Don Johnston (fabuloso nome) é um playboy de meia-idade que fez fortuna com computadores. A sua enésima namorada (Julie Delpy, num papel de 30 segundos) deixou-o e ele passa os dias deitado no sofá, sempre na penumbra, a ver televisão ou a ouvir musica. Até que recebe uma carta anónima, em que uma ex-namorada lhe revela que têm um filho de 19 anos. Um vizinho armado em detective prepara-lhe então um plano: embarcar numa viagem ao passado, ou seja, visitar as namoradas de há vinte anos para tentar descobrir qual lhe enviou a carta. Embora hesite, a energia do amigo e a curiosidade sobre o hipotético filho, levam a que Johnston com o laconismo e ar de frete habituais lá se resolva a empreender a viagem.
A partir daqui temos como que quatro sketchs, género frequente em Jarmusch, correspondendo cada um a uma ex-namorada. A primeira a ser visitada é Sharon Stone, agora viúva de um corredor de automóveis, que mora nuns subúrbios classe média. Jonhston é recebido de braços abertos, não só por ela como também pela sua perversa filha adolescente chamada...Lolita! O tom aqui é de comédia delirante, género não estranho a Jarmusch que já tinha apresentado o italiano Begnini ao resto do mundo (em 'Down by Law'). A segunda visitada é Frances Conroy (a mãe da familia Fisher em 'Sete palmos de terra'). A recepção é simpaticamente distante, e o tom de ironia sardónica. Ela e o marido são agentes imobiliários que vendem (e moram em) umas casas pré-fabricadas horrorosas e tudo neles é ridículo e asséptico. A terceira da lista é Jessica Lange (por Julie Delpy já tínhamos percebido que Murray sabia escolher as namoradas). Aqui a recepção é fria e o tom de comédia cínica: Lange é uma 'comunicadora animal', quer dizer, é alguém que fala com os bicharocos! Depois da Lolita do primeiro sketch, surge mais uma secundária genial: Cloe Sevigny, a sua secretária, de quem haveria muito a dizer... Para terminar, temos um recepção francamente hostil - de Tilda Swinton, sintomaticamente a única que o havia deixado e a mais feia. Mora nas traseiras de uma garagem de Harleys, num cenário decadente tipicamente americano, e o tom de comédia esvaiu-se de vez.
Cada um destes sketchs teria dado uma excelente curta-metragem, mas o espectador faz naturalmente uma pergunta: o que os une? É que o final do filme pode ser algo desconcertante. Ao contrário do que costuma suceder em obras de ficção deste género, no final da sua 'viagem sentimental' Murray está na mesma. Não sabe nem mais nem menos sobre o suposto filho. Não chegou a conclusão nenhuma sobre o mundo, sobre a sua vida, sobre o futuro. Não houve qualquer ponto de viragem, qualquer revelação, qualquer acontecimento que desse um sentido à sua vida. Está no mesmíssimo ponto em que estava no início. Para Murray (para Jarmusch), a vida não é um filme.
Broken flowers, Estados Unidos/França, 2005. Realização: Jim Jarmusch. Com: Bill Murray, Jessica Lange, Sharon Stone, Tilda Swinton, Julie Delpy, Alexis Dziena, Christopher McDonald, Chloë Sevigny.

1 comments:

drinkthestars said...

Se estás acordado vem ter ao msn :)