'Kiss kiss, Bang Bang' pretende ser uma paródia aos trillers 'noir', cheios de reviravoltas, com loiras e muitos tiros. É assim, um filme auto-referencial, estando todo o seu programa exposto no titulo - é copiado dum livro da critica Pauline Kael, que por sua vez o tinha ido buscar à série 007.
O narrador (e principal protagonista) aborda directamente o espectador enquanto lhe vai narrando a história, por vezes parando as imagens, por vezes andando para trás, por vezes para a frente, comentando o que se vai passando, etc. Um chico-esperto, em suma, que depressa nos cansa com as suas intromissões. Mas, quanto a mim, este filme tem um problema ainda mais sério: embora ria de si próprio, ri-se sozinho, ou seja dificilmente o espectador esboça mais que um sorriso. Há uma cena paradigmática: o nosso herói pretendendo assustar um 'vilão', põe uma bala na pistola, roda o tambor e dispara. Naturalmente que mata o infeliz, e depois comenta angustiado que a probabilidade era uma em oito. E o espectador ri-se? Não, apenas boceja ligeiramente enquanto pensa, 'esta foi à Tarantino'. E, claro, Tarantino ele próprio, já tinha ido buscar 'estas' a muitos lados, desde os filmes orientais aos Blaxpoitation... Ou seja, quando um filme assume e faz questão de expor todas as suas referências, só há dois caminhos: ou reinventa o género (como Tarantino o fez), ou querendo parodiá-lo (como Shane Black pretende) necessita de muita imaginação e desenvoltura para levar o espectador a entrar no seu jogo. Não bastam cenas requentadas e piadas já gastas!
Feitas as contas, há um unico motivo pelo qual valerá a pena ver este filme: Robert Downey Jr., um actor espantoso que infelizmente passa mais tempo a fazer desintoxicações que a representar...
Kiss Kiss, Bang Bang, E.U.A., 2005. Realização: Shane Black. Com: Robert Downey Jr., Val Kilmer, Michelle Monaghan, Corbin Bernsen, Dash Mihok, Larry Miller, Rockmond Dunbar.
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