'Hard Candy' traz como cartão de visita o prémio de melhor filme de Sitges - Festival de Cinema da Catalunha 2005, prémio esse que em 2004 foi atribuído a 'Oldboy' e em 2003 a 'Zatôichi', de Takeshi Kitano - boas companhias, portanto.
O filme parte de uma premissa interessante, resumida na sua tag line: e se o capuchinho vermelho comesse o lobo mau? Um fotógrafo de trinta e tal anos conhece uma miúda de 14 num chat da internet e acabam por combinar um encontro in loco. Logo aí notamos algo de estranho, longe dos estereótipos: ele é um jovem bem parecido e bem-falante ('não tens ar de quem precisa de conhecer raparigas na net', diz-lhe a miúda), ela é surpreendentemente adulta e bem articulada para a sua idade. Desde logo iniciam uma espécie de combate verbal, sendo que ela nunca lhe fica atrás em inteligência, em resposta pronta, em capacidade de sedução. E ainda ele não viu nada... uma vez em sua casa, ela droga-o e amarra-o, começando então a verdadeira batalha, em que ele está definitivamente em desvantagem. É confrontado pela miúda com o facto de ser um pedófilo e ter de pagar por isso, e nada do que ele faz dá resultado: dialoga, suplica, ameaça, grita, humilha-se, enfurece-se - ela mantém-se imperturbável e vai-lhe explicando com toda a calma do mundo que não adianta ele fazer nada. Ela controla a situação, é inteligente, determinada e tem tudo planeado ao milímetro. Estamos aqui na parte mais conseguida do filme - toda a longa sequência da 'vingança' , moralmente muito ambígua (repare-se que o homem não chegou a fazer nada à miúda, e nega-lhe sempre ser pedófilo, mas é 'torturado' sem apelo nem agravo - e não podemos desvendar mais!), é muito bem feita, um verdadeiro tour de force do realizador David Slade e dos dois actores (Patrick Wilson e Ellen Page), tendo ainda um bom contributo na fotografia asséptica de Jo Willems. Pena é Slade não ter percebido que o seu maior trunfo estava precisamente nesta 'concentração de meios': um cenário (o interior da casa), dois actores, um diálogo cerrado e sem concessões, centrado no que interessa - o jogo psicológico entre os dois protagonistas. Pelo contrário, o realizador (ou o argumentista) resolveu complicar, dando uma importância desmedida à parte menos interessante do argumento (uma paixão nunca resolvida do homem) e embarca num final rocambolesco e com toques simbólicos francamente desnecessários. Não obstante este contra, bem como uns certos tiques nervosos com a câmara (que denunciam a sua formação nos videoclips) e uma escolha infeliz da banda sonora -uma musiquinha com uma batida irritante (é uma pena, mas é raro hoje em dia encontrar uma boa banda sonora) - vale a pena, ainda assim, reter o nome de David Slade. E, acima de tudo, o da magnifica actriz que é Ellen Page.
Hard Candy, E.U.A., 2005; Realização: David Slade. Com: Patrick Wilson, Ellen Page, Sandra Oh.
2 comments:
é verdade particularmente nesta crítica. se calhar devia fazer como no IMDB e alertar no início: "atenção, spoilers!"
Lá que os actores sao bons isso sao. Tb achei o homem melhor do que a miuda.
Lá que o filme é original isso é...
Mas eu dispensava este filme totalmente.
Gosto de filmes violentos mas com algo mais do que tortura cara a cara e destruiçao psicológica.
Quero a minha inocência de volta!
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